O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de protestos ontem, em Bagé e Santana do Livramento, no primeiro dia de atividades da caravana pelos estados do Sul do País.
Aos apoiadores, o petista reforçou que tentará ser candidato à presidência da República na eleição deste ano. “Se me deixarem, se for possível, e até quando o partido quiser, serei candidato a presidente”, discursou, ao lado do ex-presidente do Uruguai, José Mujica, em ato realizado em Livramento.
Mas não foram apenas apoiadores e militantes alinhados ao ex-presidente que acompanharam seu giro pelo Rio Grande do Sul. Lula também teve a recepção de opositores durante o roteiro.
Na primeira agenda, pela manhã, foi obrigado a fazer alterações ao enfrentar a mobilização de produtores rurais e simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) – também pré-candidato à presidência da República -, que se concentraram a poucos metros dos militantes petistas.
Todos foram até a entrada da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) para assistir ao discurso do ex-presidente. Os dois grupos foram separados por um cordão de isolamento feito por policiais da Brigada Militar.
Manifestantes com “pixulecos” – bonecos que retratam Lula vestido de presidiário – e cartazes de “Lula Ladrão” usaram caminhões, tratores e cavalos para bloquear o acesso da comitiva de Lula à Unipampa, exigindo que a caravana usasse a via lateral do campus.
O petista teve que discursar sobre um carro de som estacionado ao lado do ônibus da comitiva, para que subisse rapidamente.Pela programação original, ele usaria um carro de som maior, onde ficaria mais vulnerável.
“Confesso que saio triste daqui. Porque não vi empresário ofendendo a gente. O que vi aqui foi pobres e trabalhadores, que, às vezes, estão até desempregados ganhando alguma coisa para ofender a gente”, discursou.
Lula afirmou que “a direita fascista deveria ter vindo protestar quando criei a Unipampa, porque a elite nunca quis que o pobre tivesse acesso à universidade”.
“Sinceramente, não esperava que nossa passagem por Bagé fizesse com que a direita fascista reclamasse junto ao MP (Ministério Público) que eu não pudesse fazer ato na universidade”, disse.
O organizador do protesto e presidente da Associação Rural de Bagé, Rodrigo Moglia, rebateu Lula e afirmou que a manifestação foi motivada pela presença do ex-presidente em uma universidade pública para realização de um ato de campanha eleitoral.
“É uma afronta à lei. Protestamos para que a justiça se faça cumprir e prenda este condenado. Qualquer outro cidadão brasileiro que não disponha de bancas caríssimas de advogados, já estaria preso”, disse Moglia.
A equipe do ex-presidente já esperava protestos contra a caravana de Lula no Sul, de tradição agropecuária e antipetista. Apesar de questionamentos de aliados, o ex-presidente, que já circulou por Nordeste e Sudeste, insistiu na ideia de incluir a região.
De Bagé, Lula foi a Santana do Livramento, na fronteira entre Brasil e Uruguai, onde encontrou o amigo e ex-presidente uruguaio José Mujica.
Em conversa pública na Praça Internacional, que divide os dois países, Lula disse ter se inspirado no exemplo de Mujica em muitas coisas, como na força ideológica e na honradez.
O ex-presidente fez menção ao processo da Operação Lava Jato, no qual já foi condenado em segunda instância por corrupção, o que pode resultar na sua prisão.
“Estou sendo processado. Poderia dar um pulo ali (no Uruguai). Não dou. Mais dia menos dia, quem vai sair do País são meus acusadores.” Em outras oportunidades, o petista já descartou a possibilidade de fugir do Brasil caso tenha a prisão decretada.
Lula afirmou ainda que seu problema pessoal é pequeno em comparação ao enfrentado por brasileiros. Também presente, o ex-presidente do Equador Rafael Correa discordou: “Uma injustiça que se comete contra um homem se comete contra a humanidade”. O encontro também teve a presença da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Durante a conversa entre os ex-presidentes na praça, Lula levou um puxão de orelha de Mujica, que disse ao brasileiro ser necessário fortalecer os partidos. “As mudanças não podem se respaldar em uma figura só. Sorte que têm Lula. Mas, na luta, não terão Lula eternamente”, disse.
O uruguaio afirmou ainda que os partidos de esquerda têm que cuidar enormemente da conduta dos que os representam. “Se pregamos por igualdade temos que viver como o povo e não como uma minoria privilegiada”, disse ele, antes de seu discurso ser interrompido por uma queda de luz. A atividade – segundo ponto da agenda de Lula no Rio Grande do Sul – foi suspensa por 10 minutos devido à falta de energia que atingiu a praça.
Também houve tensão na fronteira. Manifestantes contrários e apoiadores do ex-presidente entraram em confronto em pelo menos dois momentos em Livramento. Em um deles, militantes vestindo camisetas vermelhas tentaram rasgar cartazes que pediam a prisão do petista e exigiam a retirada do grupo que fazia a manifestação. Lula deve circular por dez cidades gaúchas nesta etapa da caravana.
Fonte – Jornal do Comércio