Um dos fatos mais tristes da história do Piauí aconteceu no ano em que se registrou o maior volume de chuvas das últimas quatro décadas, segundo a Defesa Civil. Construída para amenizar os efeitos da seca, a Barragem Algodões não resistiu à força da água e o cenário após a enxurrada era de destruição e desolação. Postes foram levados e a cidade ficou sem energia. Energia que também faltou às famílias que viram seus parentes desaparecer e morrer nas águas.
Apesar dos dados oficiais do governo do estado sobre os mortos, a Associação das Vítimas e Amigos da Barragem Algodões (Avaba) diz que o número de vítimas é bem maior. Pelo menos 40 pessoas teriam morrido ao longo desses cinco anos em decorrência da enxurrada que devastou a cidade.
“Algumas pessoas adquiriram doenças por conta do alagamento e outras que perderam plantações e familiares sofreram por muito tempo com a depressão”, disse Corcino Medeiros, presidente da Avaba.
Risco de Rompimento
Duas semanas antes da tragédia, a barragem, construída entre duas serras, chegou a dar sinal de alerta quando transbordou pela primeira vez. A água provocou uma erosão de um quilômetro entre o sangradouro e a parede da represa. Diante do risco de inundações, uma faixa de 100 quilômetros de extensão em três municípios foi isolada e moradores retirados às pressas e levados para abrigos. No entanto, os engenheiros esperaram o nível da água baixar para começar uma obra de contenção e os moradores foram autorizados a voltar.


Equipes da Defesa Civil do estado e do Corpo de Bombeiros trabalharam sem parar, na tentativa de localizar moradores desaparecidos. Muitas pessoas só puderam ser resgatadas de helicóptero, com a água pela cintura.
Ações na Justiça
O Tribunal de Justiça do Piauí volta a julgar nesta terça-feira (27) duas ações de indenizações por danos patrimoniais e morais no valor de R$ 200 mil. O pedido de indenizações por danos patrimoniais foi ajuizado pelo Ministério Público Estadual. A ação por danos morais foi ajuizada pela Associação das Vítimas e Amigos da Barragem Algodões (Abava) que culpa a Empresa de Gestão de Recursos (Emgerpi) e o governo do Estado pelo rompimento.
No Supremo Tribunal Federal (STF) tramita uma ação penal por homicídio culposo contra o senador Wellington Dias (PT-PI). Ele foi acusado após as mortes pelo rompimento de, na época em que era governador do estado. O processo penal foi instaurado oficialmente no STF no começo de janeiro.
Ao G1, o advogado Germano Silva, disse que Wellington Dias não teve responsabilidade em relação aos fatos porque não autorizou que famílias voltassem para áreas de risco.
O senador foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Piauí por responsabilidade nas mortes, e a Justiça do estado abriu a ação penal em junho de 2010.
A acusação do Ministério Público do Piauí, subscrita pela Procuradoria Geral da República, destaca que o então governador “imprudentemente” ordenou que milhares de pessoas voltassem para suas residências mesmo diante de “riscos concretos de rompimento da Barragem Algodões I”. Elas haviam sido retiradas do local por ordem judicial.
O MP narra que seis dias depois de o governador autorizar o retorno das pessoas, a barragem rompeu. Entre os mortos, uma criança de 1 ano e 3 meses e uma idosa de 74 anos.
Fonte: G1