O dólar alcançou nesta terça-feira (28) a marca histórica de R$ 6,00, um marco que reflete a reação negativa do mercado financeiro ao recente anúncio de medidas fiscais e mudanças no Imposto de Renda feitas pelo governo federal. Essa é a primeira vez que a moeda americana ultrapassa esse valor desde sua introdução no Brasil, em 1994.
A alta foi impulsionada pela combinação de fatores econômicos e fiscais internos. O pacote de contenção de gastos, divulgado pelo Ministério da Fazenda, estima uma economia de R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026. Contudo, a decisão de ampliar a isenção do Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil, somada à elevação da taxação para quem ganha mais de R$ 50 mil, gerou incertezas sobre o equilíbrio fiscal a médio prazo.
O dia começou com o dólar comercial sendo cotado a R$ 5,97, mas ao longo da manhã atingiu o patamar de R$ 6,00. Às 13h37, a moeda registrava alta de 1,52%, sendo negociada a R$ 6,003 na venda. No mercado de turismo, o dólar chegou a R$ 6,039, consolidando a quebra do recorde anterior, registrado na véspera, de R$ 5,91.
Medidas e reações
A reação negativa foi alimentada por desconfianças de analistas e investidores em relação às medidas fiscais anunciadas. Entre elas, está a limitação de deduções no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a inclusão de novos critérios para o cálculo da renda familiar. Especialistas apontaram que as medidas foram percebidas como insuficientes diante do desafio de controlar o déficit público.
As taxas de juros futuros brasileiras também subiram, com destaque para os contratos de longo prazo. Esse movimento reflete a elevação do prêmio de risco do país, uma vez que investidores avaliam os potenciais impactos das medidas anunciadas.
Eduardo Moutinho, analista do Ebury Bank, afirmou que a ampliação da faixa de isenção do IR, apesar de uma promessa de campanha, foi vista como uma tentativa de recuperar apoio popular em detrimento do compromisso fiscal.
Cenário internacional e comparação com emergentes
Enquanto o real se desvalorizava, outras moedas emergentes registravam ganhos ou variações marginais em relação ao dólar. No mercado internacional, o índice do dólar, que compara seu desempenho frente a outras divisas, subia 0,10%, impulsionado pela expectativa de mudanças políticas e econômicas globais.
Com o câmbio pressionado, o Banco Central realizou leilões de swaps cambiais para conter a volatilidade, mas o impacto foi limitado diante das incertezas internas.
A marca de R$ 6 no câmbio é considerada simbólica e preocupante, consolidando o que muitos analistas chamam de “hexa econômico” — um recorde que, ao contrário do futebol, não desperta celebrações.