
A greve dos caminhoneiros mantém o sinal de alerta para os mercados no Piauí. O movimento, que dura quatro dias no Brasil, tem causado lentidão e bloqueio de grandes rodovias, impedindo o escoamento de produtos, sobretudo os perecíveis, que precisam ser abastecidos quase diariamente.
PRODUTOS FALTAM NA CEASA
Na Nova Ceasa, em Teresina, James Andrade, diretor-presidente da empresa, afirma que a chegada de caminhões com alguns produtos reduziu em até 70% nesta quinta-feira (24/05). Por causa disso, os permissionários temem o aumento de preço, já que a oferta é pouca em comparação com a demanda.
“Alguns produtos como a batata, o abacate e a melancia já estão em falta porque vem de estados onde a greve está mais intensa e os alimentos não chegam até aqui, estão presos lá. Estamos trabalhando atualmente com produtos que chegaram há vários dias e isso nos preocupa e aos permissionários também”, disse ao OitoMeia.
James tem acompanhado a situação de outras Ceasas pelo Brasil e afirma que o caso é um “reflexo em cadeia”. No entanto, avalia a greve como válida, porque “o combustível é muito caro e está dando prejuízo”, revelou.
“Em Ceasas como a do Espírito Santo, São Paulo, o comércio parou porque não tem produtos. Se eles não recebem lá, a gente não recebe daqui, porque a maioria dos produtos vem por terra e se as rotas estão paradas, como chegar até aqui? O prejuízo é um reflexo em cadeia: afeta o produtor, que tem receio de colocar os produtos no caminhão e eles estragarem, o caminhoneiro que não pode trabalhar e que paga caro pelo combustível, os permissionários que não conseguem ter produtos novos para vender e o consumidor, que vai pagar caro com menos qualidade. Por outro lado, a situação do Piauí ainda é mais branda”, avaliou o diretor da Nova Ceasa.
Essa é a preocupação também de Antônio Lira, permissionário. Ele trabalha com abacate e batata, dois dos produtos que já sofreram aumento. Há dias que ele não recebe novos produtos e teme não poder vender o que já está em estoque.
“Tem esses estocados que a gente está vendendo agora, mas o preço aumentou porque é só isso que tem. Ainda não chegou e a gente tem medo porque não quer vender produto velho e o pessoal não quer comprar velho também”, afirmou ao OitoMeia.
Nova Ceasa observou queda de até 70% na chegada de caminhões nesta quinta-feira (Foto: Divulgação)
E OS SUPERMERCADOS?
De acordo com Raul Lopes, presidente da Associação Brasileira de Supermercados no Piauí, o estoque de produtos pode suportar até próxima semana e até agora não há problemas em questão de desabastecimento. Se não for normalizado, porém, as mercadorias que mais vão sofrer alteração de preço ou até mesmo carência são as frutas, legumes, verduras, frios e ovos. “Porque são aqueles que mais precisam de reposição nas prateleiras”, informou.
E OS MERCADINHOS DE BAIRRO?
De acordo Zé Luis, comerciante, ao OitoMeia, a situação também é preocupante porque os produtos precisam de reposição no final do mês. Ele compra em atacados e Nova Ceasa e teme o aumento de preço, o que repercutiria também na venda do mercadinho.
“Eu geralmente compro muita coisa no início do mês e vou repondo. Quando chega assim final de mês, eu preciso fazer o que chamo de ‘compra da semana’ para algumas coisas que vão acabando. A gente compra da Ceasa e dos atacados, mas se o preço aumenta lá, a gente tem que aumentar aqui para não ficar no prejuízo. Só que o cliente, que acha que no mercadinho é mais barato, deixa de comprar com a gente se vê que o produto está mais caro que o do supermercado, aí a gente não pode fazer nada. Todo mundo quer economia”, revelou.
MALHA RODOVIÁRIA DOMINA O PAÍS
A logística de transporte pelo Brasil apresenta predominância nas rodovias. Em 2009, por exemplo, após uma extensa pesquisa, a Confederação Nacional de Transportes (CNT) divulgou que 62% de toda a carga transportada no país usa o sistema modal rodoviário; por outro lado, apenas 21,0% passaram por ferrovias, 14% pelas hidrovias e terminais portuários fluviais e marítimos e 0,4% por via aérea.
E mesmo com distribuição desigual pelo território nacional, a malha rodoviária tem vascularização e densidade muito superiores às dos outros modais de transporte.
ENTENDA A GREVE DOS CAMINHONEIROS
Os caminhoneiros completaram hoje (24) no quatro dias de manifestações contra o preço elevado dos combustíveis. Na noite de quarta-feira (23), o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou uma redução de 10% no valor do diesel por 15 dias. A decisão, ele afirmou que buscava contribuir com uma possível trégua no movimento da categoria.
Segundo o ministro Marun, após a reunião de quarta (23) com líderes dos caminhoneiros, o governo avançou em propostas como a redução do preço do combustível, com o anúncio da Petrobras de reduzir em 10% o valor do diesel nas refinarias por 15 dias.
“Vamos nos reunir não mais como ontem, apenas ouvindo, mas já tendo tomado medidas concretas e entendemos que podem resultar numa trégua para que, daí sim, as outras reivindicações, que são muitas, possam ser analisadas com mais tempo e com a necessária responsabilidade”, disse em entrevista a jornalistas após reunião com o presidente Temer e ministros para buscar soluções para a paralisação.
Já o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse hoje (24) que a mobilização dos caminhoneiros nas rodovias do país só será encerrada quando o presidente Michel Temer sancionar e publicar, no Diário Oficial da União, a decisão de zerar a alíquota do PIS-Cofins incidente sobre o diesel.
Para poder ser sancionada pelo presidente, a medida precisa, antes, ser aprovada pelo Senado.
Fonte: Oito e Meia