
Nildo Acioly, de 64 anos, mais conhecido como o palhaço Cascatinha, é proprietário do circo Acioly, instalado na Zona Norte de Teresina. Quase dois anos sem espetáculos, o artista circense perdeu parte dos equipamentos de trabalho durante as chuvas e outros vendeu para sustentar a família na pandemia.
No dia 13 de março de 2020, o Circo Acioly chegou em Teresina para uma turnê, mas a pandemia da Covid-19 interrompeu os planos. Atualmente o palhaço Cascatinha e a família sobrevivem de doações, mas ele não perdeu as esperanças de voltar a erguer seu circo.
“Não perco as esperanças de jeito nenhum. Eu acho que vou chorar igual a criança quando ver meu circo erguido mais uma vez. Vou rir e chorar de alegria. As pessoas talvez não entendam, mas é uma coisa mágica ser palhaço de circo, fazer os outros rirem. É uma coisa mágica ser artista circense”, contou Nildo.
Segundo o palhaço, sobreviver sem fazer aquilo que tanto ama só tem sido possível com vendas de bombons nos semáforos e pela ajuda solidária dos teresinenses.
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Nildo Acioly, proprietário do Circo Acioly em frente aos poucos equipamentos que sobraram da estrutura do circo — Foto: Lívia Ferreira/g1 PI
“Está sendo extremamente difícil para quem sobrevive da cultura circense. Minha família e eu agora estamos nos afastando, porque, eu vou lhe falar: são dois anos de dificuldades, eu mesmo não sei nem mais o que fazer pra voltar a trabalhar com o circo”, explicou o artista.
Durante o período de chuvas, o circo Acioly perdeu uma parte fundamental da sua estrutura: a lona. Sem essa cobertura, muitos equipamentos também foram danificados por estarem a céu aberto, como o globo da morte.
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Lona do Circo Acioly destruída após chuvas em Teresina — Foto: Lívia Ferreira/g1 PI
“No dia 24 de dezembro de 2020 ocorreu um temporal, que danificou parte da estrutura do circo. A gente consertou, costurou, mas em 19 de fevereiro de 2021 outro temporal aconteceu e dessa vez rasgou toda a lona do circo. A nossa casa foi embora“, lamentou Nildo.
Com a destruição da lona, vários equipamentos do circo começaram a se deteriorar, porque estavam expostos a sol e chuva. Equipamentos de iluminação, máquina de solda e o ‘globo da morte’ foram tomados pela ferrugem. Além disso, 125 cadeiras, que acomodavam o público, foram roubadas.
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Globo da morte do Circo Acioly em Teresina — Foto: Lívia Ferreira/g1 PI
Ao longo de quase 2 anos, Nildo disse que conseguiu se manter através de doações e bicos. Com seu carro de som, usado para anunciar os espetáculos do circo, ele vendeu maçã-do-amor e algodão-doce.
Famílias divididas pela pandemia
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A família de Nildo, com cerca de 10 pessoas, vivem em dois ônibus-moradia e sonham em reerguer o circo — Foto: Lívia Ferreira/g1 PI
Junto com o palhaço trabalhavam mais 27 pessoas, de oito famílias. Quando houve a flexibilização e reabertura de comércios, lojas e viagens em agosto de 2020, os artistas foram embora do local tentar uma vida melhor.
“O cachê deles era pago semanalmente e mesmo sem receber nada ficaram aqui comigo por cerca de sete meses, recebendo só alimentação. Era pouca e não era uma alimentação boa, mas pelo menos nunca faltou. Tinha gente do Ceará, Maranhão, Pará, todos foram embora. Mas começaram a pedir pra voltar, mas eu não tenho como. Na verdade, nem eles”, contou emocionado o palhaço.
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Parte da estrutura do Circo Acioly em Teresina — Foto: Lívia Ferreira/ g1 PI
Atualmente, Nildo vive com mais 10 pessoas, entre a sua mãe, esposa, filhos, netos e bisnetos. O grupo morava divididos em dois ônibus, que serviam de casa para os artistas. Mas ainda no início da pandemia, o palhaço vendeu os veículos e usou o dinheiro para custear a família por um tempo.
60 anos de circo
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Parte da estrutura do Circo Acioly em Teresina — Foto: Lívia Ferreira/g1 PI
Nildo Acioly é natural da Bahia, mas mora em Teresina deste 1998. O bahiano tem 60 anos de circo e através do seu trabalho fez inúmeras viagens pelo mundo.
“Nasci e me criei dentro do circo, assim como meus pais, e amo morar aqui”, declarou.
Ele já viajou com sua trupe para Argentina, Uruguai, Paraguai. E no Brasil conheceu quase todos os estados como: Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina, Espirito Santo, Aracaju, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Pará, Amazonas.
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Circo Acioly em 2016 — Foto: Reprodução
“Eu sou apaixonado pela minha vida de palhaço, apaixonado pela minha profissão. Eu já fui no Oiapoque com o circo. Infelizmente, o mundo todo está passando por uma fase difícil. Temos esperança de que tudo vai melhorar e o circo vai voltar”, comentou o palhaço.
*Estagiária sob supervisão de Catarina Costa.
Fonte: G1 Piauí