Um grupo de 48 médicos cubanos que decidiu ficar no Piauí depois que o governo de Cuba decidiu se desligar do Programa Mais Médicos, do governo brasileiro, está desempregado e enfrentando dificuldades para se manter no estado. Um deles, Raymel Kessel, 39 anos, contou ao G1 que tentou vaga de gari, mas não foi admitido porque tem formação em medicina.
Raymel chegou à cidade de Ilha Grande em 2014 e contou ao G1 que foi bem acolhido pela população da cidade, mas mesmo sendo querido, não consegue emprego.
“Não é fácil achar emprego porque quando colocamos no currículo que somos médicos, ninguém quer nos contratar. Eu até procurei trabalhar no carro de lixo e não foi aceito porque diz que médico não faz esse tipo de trabalho”, lamentou.
Raymel Kessel atuava como médico na cidade de Ilha Grande — Foto: Arquivo Pessoal
Após quatro anos e meio trabalhando como médico na rede de atenção básica do município de Ilha Grande, no Litoral do Piauí, Raymel se casou com uma piauiense e é pai de um menino brasileiro, e por isso decidiu ficar no Brasil. “Me sinto parte da Ilha Grande, me sinto filho daqui”, afirmou o médico.
Alguns cubanos formaram família com mulheres piauienses e relatam estarem passando por necessidades financeiras para sustentar os filhos. Os médicos aguardam realização do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeiras (Revalida) para retornar aos postos de saúde e hospitais.
No entanto, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável por aplicar a prova, disse que “não há ainda o cronograma para a próxima edição do Revalida”.
“Estou desesperado. Não tem o exame do Revalida desde o ano 2017 e estamos privados de trabalhar como médicos há sete meses. Estamos aguardando há meses por uma MP do governo que nos permita trabalhar até fazer o exame de Revalida, mas nada de MP e nada de Revalida”, declarou Raymel Kessel.
O Ministério da Saúde estima que cerca de dois mil cubanos ficaram no país após o fim do programa. O Ministério informou ao G1 que “trabalha na elaboração de um novo programa para ampliar a atenção primária”. Disse, ainda, que está discutindo “alternativas para o exercício profissional” dos médicos de Cuba.
Raymel Kessel tem ocupado seus dias distribuindo perfis profissionais em diversos estabelecimentos comerciais e os instrumentos de trabalho que mais gostava de usar, um estetoscópio e um aferidor de pressão, estão guardados.
A esperança de Raymel agora é chegada do mês de agosto, período em que, segundo do jornal “O Estado de S. Paulo”, o governo deverá editar uma medida provisória para alterar o programa Mais Médicos e manter os médicos cubanos trabalhando no Brasil.
Fonte: g1