
A arqueóloga Niède Guidon recebeu nesta quarta-feira (10) o título Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), pelos seus mais de 50 anos de trabalho à frente das pesquisas arqueológicas realizadas na Serra da Capivara, no Sul do Piauí.
A pesquisadora franco-brasileira de 91 anos é responsável por realizar uma das maiores pesquisas arqueológicas ao encontrar desenhos datados de até quase 30 mil anos. O sítio escavado por ela em 1973 abriu portas para uma nova teoria: a de que a chegada do homem à América aconteceu muito antes do que se pensava.
A concessão do título de Doutor Honoris Causa representa a maior honraria dos segmentos honoríficos da UFPI, sendo concedida apenas a pessoas que tenham prestado significativas contribuições públicas à Universidade.
A proposta foi apreciada e aprovada pelo Conselho Universitário, e a distinção reconhece o agraciado como possuidor de caráter ilibado, comportamento exemplar e compromisso com o ensino superior, cultura e paz mundial.
“O título é uma forma de reconhecimento ao seu excepcional trabalho e dedicação, realizados para promover e divulgar o Parque Nacional Serra da Capivara. A parceria entre a UFPI e o Parque Nacional é de extrema importância, pois ambas as instituições trabalham juntas para promover o desenvolvimento da região e incentivar a pesquisa arqueológica”, disse o reitor da UFPI, Gildásio Guedes.
50 anos revelando a história
Niède veio ao Piauí em 1970, como professora na França, para conhecer as pinturas rupestres em São Raimundo Nonato. A jovem pesquisadora fez uma das maiores descobertas arqueológicas ao encontrar desenhos datados de cerca de 30 mil anos.
O trabalho de Niède revelou mais de 800 sítios pré-históricos, com pinturas rupestres, ferramentas e outros vestígios dos primeiros habitantes humanos da América, descobertos em escavações arqueológicas realizadas principalmente em abrigos rochosos naturais com muitas pinturas rupestres (foto abaixo).
Somente em 1979 foi criado o Parque Nacional da Serra da Capivara, e no ano seguinte surgiu a Fundação do Homem Americano para facilitar e financiar as pesquisas na região.
Graças às descobertas da arqueóloga, a Unesco reconheceu o Parque Nacional da Serra da Capivara como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Homenagens
A importância do trabalho de Niède foi reconhecida por todo o mundo, e ela recebeu homenagens de todo tipo: desde documentários, o nome de um pássaro e uma ópera.
Documentário ‘Niède’
Em 2019 foi finalizado um documentário sobre a trajetória e Niède na Serra da Capivara (trailer acima).
O filme teve sua estreia em 5 de junho, na Pedra Furada, na cidade de Coronel José Dias, que compreende parte da serra em seu território. Foi a primeira vez que Niède e a comunidade o assistiram.
Niède imortal da APL
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Em 2020, Niède tomou posse na cadeira de número 24 na Academia Piauiense de Letras (APL), em uma solenidade virtual por conta da pandemia de Covid-19.
Pássaro ganha nome de Niède
Pássaro descoberto no PI ganha nome em homenagem a arqueóloga Niède Guidon
Em junho de 2024, Niède foi homenageada com o nome da ave Sakesphoroides niedeguidonae, uma nova espécie catalogada e que vive no entorno do Parque Serra da Capivara. Anteriormente, o pássaro estava classificado na classe das chocas-do-nordeste (Sakesphoroides cristatus), mas pesquisadores descobriram que devido a alterações no curso do Rio São Francisco, as aves tornaram-se duas espécies distintas.
Entre as aves estudadas, está uma fêmea adulta de niedeguidonae encontrada na Serra Vermelha, no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, a 521 km de Teresina. Dois dos pesquisadores, Pablo Cerqueira e Gabriela Gonçalves, são piauienses.
Ópera da Serra da Capivara
Fantástico mostra a incrível Ópera da Capivara, um espetáculo no meio da caatinga.
Em 2022, Niède foi o tema central de um espetáculo da Ópera da Serra da Capivara.
O espetáculo retratou diversos momentos da vida da arqueóloga, da infância a fase adulta. Dos anos de estudos em Paris até a mudança da capital francesa para o meio da Caatinga.
Fonte: g1 PI