
A Polícia Civil do Piauí, por meio do Departamento de Combate à Corrupção (DECCOR), deflagrou nesta terça-feira (14/10) a Operação Gabinete de Ouro, com o objetivo de combater um esquema de corrupção que teria movimentado milhões de reais na Prefeitura de Teresina durante a gestão do ex-prefeito Dr. Pessoa.
Segundo as investigações, o grupo seria liderado por Suelene Pessoa, conhecida como Sol Pessoa — sobrinha do ex-prefeito —, e formado por familiares, empresários e servidores públicos, todos com funções específicas no esquema.
Durante a operação, foram cumpridos quatro mandados de prisão e sete de busca e apreensão em diferentes endereços da capital.
Foram presos Suelene Pessoa, Marcus Almeida de Moura, Mauro José de Sousa e Rafael Thiago Teixeira Ferreira.

O comando de Sol Pessoa
De acordo com a investigação, Sol Pessoa comandava toda a operação criminosa, decidindo sobre contratações, pagamentos e distribuição de lucros.
Ela exercia forte influência política e controlava a indicação de cargos ligados a terceirizados e prestadores de serviço, garantindo que o grupo mantivesse o controle sobre os recursos públicos.
Entre 2020 e 2024, Sol declarou renda de R$ 415 mil, mas os relatórios financeiros apontam créditos superiores a R$ 1,2 milhão em suas contas, oriundos de transferências de terceiros e de empresas sem atividade econômica real.
O padrão de consumo, com gastos em cartões de crédito muito acima da renda declarada, chamou atenção dos auditores e reforçou o papel central da ex-servidora na engrenagem do grupo.
Função dos demais investigados
Marcus Almeida de Moura, proprietário da empresa MM Transportes e Turismo LTDA, atuava como operador empresarial do grupo. Ele seria o responsável por criar e gerir empresas de fachada, emitir notas fiscais falsas e movimentar grandes quantias para mascarar a origem ilícita do dinheiro.
Mesmo declarando faturamento zero em 2022 e 2023, movimentou mais de R$ 5 milhões em contas pessoais. A Receita Federal identificou diferença de R$ 15 milhões entre os valores declarados e os efetivamente recebidos no período de quatro anos.
Já Rafael Thiago Teixeira Ferreira, servidor público com vínculos na Assembleia Legislativa, Secretaria de Agronegócio e Fundação Municipal de Saúde, era considerado o operador de confiança dentro da máquina pública.
Com salário médio de R$ 5 mil, movimentou R$ 4,3 milhões entre 2020 e 2024, realizando pagamentos pessoais de Sol Pessoa e repasses para empresas e construtoras usadas pelo grupo.
Somente em um ano, movimentou R$ 2,3 milhões, muitas vezes em espécie, com transferências fragmentadas para a construtora PAVCON, que servia de canal para reformas em imóveis da líder do esquema.
Por fim, Mauro José de Sousa desempenhava papel estratégico nos bastidores. Além de atuar como motorista, realizava depósitos em espécie nas contas da PAVCON, usada para escoar recursos ilícitos.
Segundo relatório do COAF, ele operava em conjunto com Marcus, Rafael Thiago e Sol Pessoa, garantindo que o dinheiro chegasse aos destinos finais sem levantar suspeitas.
Como funcionava o esquema
O grupo obtinha recursos principalmente por meio de rachadinhas e propinas, obrigando funcionários e terceirizados a devolver parte dos salários.
Outra fonte de dinheiro eram fraudes em contratos e serviços públicos, utilizando empresas fantasmas e notas fiscais falsas para inflar valores e justificar pagamentos inexistentes.
O dinheiro era lavado através de transferências, fracionamento de valores e reintegração para despesas pessoais, obras e investimentos empresariais.
Um dos principais canais era a construtora PAVCON, formalmente contratada para reformas em imóveis de Sol Pessoa, mas que na prática recebia pagamentos fracionados e fora do sistema bancário.
Descoberta e desdobramentos
A investigação teve início após relatórios do COAF indicarem movimentações incompatíveis com as rendas declaradas.
Durante a operação, foram cumpridos mandados de busca, apreensão e sequestro de bens em Teresina e outros municípios do Piauí, incluindo veículos, documentos e dispositivos eletrônicos.
A Polícia Civil descreve o caso como “um esquema sofisticado, combinando corrupção administrativa, peculato e lavagem de dinheiro”, que teria movimentado dezenas de milhões de reais por meio de empresas fantasmas, contas de terceiros e servidores ‘laranjas’ para disfarçar a origem ilícita dos recursos.
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