
A infância é uma fase marcada por descobertas e crescimento acelerado. Mas, quando a alimentação não supre as necessidades do organismo, os prejuízos podem ser profundos e permanentes. A nutricionista da Hapvida, Regielly Oliveira, explica que a má nutrição compromete três aspectos fundamentais da vida de uma criança: físico, cognitivo e emocional.
“No aspecto físico, a falta de nutrientes pode levar a atrasos no crescimento, menor estatura e prejuízos na formação do sistema nervoso e muscular. No campo cognitivo, interfere na mielinização dos neurônios, dificultando a aprendizagem, a memória e até o comportamento. Já no emocional, pode prejudicar o rendimento escolar, a autoestima e favorecer quadros como depressão e isolamento social”, detalha a nutricionista.
A especialista destaca ainda que os primeiros mil dias de vida, isto é, da gestação até os dois anos de idade, são determinantes para esse desenvolvimento. “Esse período é crítico porque define como diversos sistemas do corpo vão se organizar. Alterações nutricionais nessa fase podem trazer efeitos duradouros, como obesidade e distúrbios metabólicos”, acrescenta.
IMPACTOS
O cenário brasileiro mostra que a questão ainda merece atenção. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria realizado a partir de dados do Ministério da Saúde mapeados entre 2012 e 2022 revela que, diariamente, pelo menos 11 crianças menores de cinco anos são hospitalizadas por problemas ligados à desnutrição no país. A região Nordeste concentra a maior parte dos casos: 36% do total.
Já segundo o IBGE, mais de um terço das crianças brasileiras de até quatro anos de idade viviam em lares com algum grau de insegurança alimentar no ano de 2023. Além disso, a insegurança alimentar severa, que em 2014 afetava menos de 2% da população, atingiu quase 10% dos brasileiros entre 2020 e 2022, segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Entre os riscos que a insegurança alimentar apresenta, os impactos na aprendizagem também se destacam. “Sem acesso a uma alimentação adequada, não só a saúde imediata é comprometida, mas também o futuro dessas crianças, com impactos que podem persistir até a vida profissional adulta”, reforça Regielly Oliveira.
O desenvolvimento escolar é diretamente afetado pela qualidade da alimentação. Deficiências de ferro, por exemplo, podem comprometer o sistema nervoso central, afetando memória, concentração e desempenho motor. Já a carência de vitaminas do complexo B provoca alterações de humor e dificuldades de aprendizado.
“Uma criança mal nutrida tem maior propensão a apresentar fadiga, queda na energia e até comportamentos disruptivos, que prejudicam não só seu aprendizado, mas o ambiente escolar como um todo”, explica a nutricionista.
Estratégias possíveis para os pais
Mesmo diante de desafios financeiros e de tempo, especialistas reforçam que há estratégias acessíveis para garantir uma alimentação saudável:
Estabelecer rotinas alimentares regulares; oferecer frutas, verduras e alimentos frescos sempre que possível; envolver as crianças no preparo das refeições; dar o exemplo, já que os hábitos dos pais influenciam diretamente os filhos; e buscar orientação profissional para adequar escolhas à realidade de cada família. Essas são algumas das estratégias que podem, na medida das possibilidades de cada família, ser adotadas para garantir o equilíbrio nutricional para o desenvolvimento adequado das crianças.
“A criança é reflexo dos responsáveis. O momento da refeição deve ser agradável, de interação, e sempre que possível a criança deve participar do preparo. Esses pequenos gestos ajudam na formação de hábitos que ela levará para a vida toda”, orienta Regielly.