Especialistas alertam para riscos respiratórios durante queimadas no Piauí

Setembro de 2025 trouxe um cenário incomum para o Piauí: pela primeira vez em dez anos, o estado registrou o menor número de focos de incêndio nesse período. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram identificados 2.147 focos de queimadas, o que representa 31,8% a menos em comparação com o mesmo mês do ano passado.

Apesar da redução, os cuidados com a saúde respiratória continuam sendo fundamentais. Isso porque os efeitos da fumaça e das partículas resultantes das queimadas, como as fuligens, podem trazer sérios prejuízos, tanto imediatos quanto a longo prazo, conforme explica o pneumologista da Hapvida, Dr. Renato Calil.

“Os produtos dispersos da queimada, seja pelo efeito direto da fumaça ou pelas partículas de fuligem depositadas nas vias respiratórias, podem ocasionar inflamações locais, irritações e até complicações crônicas. Essa exposição é ainda mais preocupante em regiões de seca, quando a umidade do ar é muito baixa”, detalha o especialista.

A realidade é sentida também no dia a dia de quem vive nas áreas mais afetadas. Eliene Diniz, dona de casa de 60 anos e moradora da zona norte de Teresina, conta que nesse período precisa redobrar a limpeza de sua residência. “As fuligens, esses pontinhos pretos, sabe? Eles incomodam bastante. Minha casa não é forrada, então aqui elas entram com muito mais facilidade. Tenho que estar sempre varrendo a casa para que elas não acumulem, pois sujam muito. Sem falar que fazem mal para a saúde.”

Segundo o Dr. Renato Calil, crianças e idosos estão entre os grupos mais vulneráveis. “As crianças, por ainda estarem em desenvolvimento, não têm mecanismos de defesa totalmente formados. Já os idosos, com o avanço da idade, perdem parte dessa capacidade de proteção contra as agressões às vias respiratórias”, pontua.

Pacientes com doenças pré-existentes também merecem atenção especial. “Pessoas com problemas cardíacos podem ter crises desencadeadas pelo processo inflamatório local. Além disso, doenças como asma, rinite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) podem se agravar diante da exposição à fumaça”, alerta o pneumologista.

Sintomas e sinais de alerta

De acordo com o médico, os sintomas mais comuns incluem tosse seca ou produtiva, congestão nasal, chiado no peito, cansaço e falta de ar. Em casos mais graves, podem surgir tosse persistente com secreção escura ou sanguinolenta, dor no peito e dificuldade respiratória em repouso.

“Esses são sinais de alerta que exigem atendimento médico imediato, principalmente em pacientes com doenças respiratórias prévias”, reforça o profissional.

Como se proteger

Para minimizar os impactos da fumaça, o especialista orienta alguns cuidados práticos no dia a dia:
• Manter portas e janelas fechadas para reduzir a entrada de partículas.
• Trocar roupas de cama com frequência, evitando acúmulo de fuligem.
• Umidificar os ambientes, seja com vasilhas de água ou umidificadores.
• Ingerir bastante líquido e, se necessário, higienizar as vias respiratórias com soro fisiológico.
• Evitar sair em horários de maior calor ou de ocorrência de queimadas.
• Utilizar máscaras adequadas, como as cirúrgicas ou do tipo PFF2, já que máscaras de pano não oferecem proteção contra partículas suspensas no ar.