A prevenção de doenças ligadas à saúde sexual e reprodutiva masculina, e o incentivo dos pais para o autocuidado devem começar na infância.
“É importante que exista um relacionamento aberto com a criança e o adolescente. A minha recomendação é estimular o diálogo, no sentido de esclarecer dúvidas sobre sexualidade, doenças, o que é normal ou não”, afirma o urologista Marcelo Wroclawski, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, seccional de São Paulo.
Uma das orientações de Wroclawski é iniciar o autoexame nos testículos por volta dos 12 anos. Ele é importante para detectar sinal precoce de câncer testicular. “Recomendamos que o autoexame seja feito uma vez ao mês, na hora do banho, porque com a água quente a musculatura do saco está mais relaxada, e o testículo fica um pouco mais fácil de ser examinado. Ele deve apalpar um testículo por vez com as duas mãos, usando o polegar e os demais dedos para identificar se há caroço ou algo diferente”, explica o médico.
Aumento do volume testicular, a presença de caroço e o desenvolvimento de hidrocele –acúmulo de líquido dentro da bolsa escrotal– podem indicar a doença. Outro sinal é uma dor imprecisa na parte baixa do abdômen.
Para a cirurgiã urologista pediátrica e coordenadora do Departamento de Cirurgia Pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Fernanda Ghilardi Leão, a adolescência é uma fase difícil, porque os meninos não trazem para os pais as alterações que acontecem no corpo.
“É a fase da vergonha. Então, é importante que os pais mantenham uma proximidade com os filhos e até programem uma avaliação de rotina, porque nessa fase já não vão mais ao pediatra”, orienta a urologista.
Leão também sugere que os pais incentivem o autocuidado no banho, por volta de 4 ou 5 anos de idade. “E conforme eles crescem, explicar sobre a importância de falar sobre qualquer coisa diferente.”
Na casa da assistente social Fabiana de Jesus Paulo Markarian, 43, mãe de Guilherme e Mateus, de seis e 12 anos, respectivamente, a conversa é aberta.
“Aqui em casa a relação é bem íntima mesmo. Eu e meu marido sempre fomos muito abertos, no sentido de expor as coisas, para que eles não escondam nada, principalmente em relação ao corpo”, relata Markanian, que diz que ensinou os filhos a fazer a higiene das partes íntimas.
“O Mateus não tem vergonha de ficar nu na nossa frente e isso é importante, porque às vezes está acontecendo alguma coisa e a mãe precisa ver”, diz.
Em outubro, Mateus foi operado para a retirada da fimose, que é o excesso de pele que recobre o pênis, dificultando que a cabeça seja exposta. Segundo Markanian, ele tem percepção do próprio corpo e quando sente algo errado conta para a mãe. No caso da fimose, ele que trouxe a queixa. “Foi quando percebemos que havia fechado mais”, relata a mãe.
PREVENÇÃO DA SAÚDE SEXUAL MASCULINA NA INFÂNCIA
No último mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instituiu a lei n° 14.694/2023 para prevenção da doença sexual até os 15 anos no país, chamada de Novembrinho Azul.
A campanha ressalta a importância de investigar quadros de dor testicular, do aumento de volume escrotal e ainda o diagnóstico e tratamento precoces de condições que sejam fatores de risco, bem como vacinação contra o HPV (vírus do papiloma humano).
Leão, do Sabará, chama a atenção para doenças infantis masculinas que, se não tratadas, podem trazer problemas, e explica que elas não se resumem a problemas no trato urinário. “Qualquer alteração nessa faixa etária, ou durante a puberdade, quando diagnosticadas de forma preventiva e tratadas corretamente, reduzem as chances de o homem adulto ter graves problemas de saúde, como por exemplo, as infecções recorrentes, câncer testicular e infertilidade”, explica.
No caso da fimose, a cirurgia é recomendada nos primeiros anos de idade, uma vez que o atraso no tratamento pode acarretar em problemas como infecção urinária de repetição, inflamação no pênis e maior incidência de infecções sexualmente transmissíveis.
A criptorquidia ou testículos fora da bolsa, pode surgir em até 45% dos meninos nascidos prematuramente. Acontece quando os testículos, que normalmente são formados no interior do abdômen, descem até o escroto durante o crescimento intrauterino e não chegam ao local correto.
Um dos riscos da criptorquidia é a alta temperatura, explica a médica, que pode reduzir as células germinativas e causar a fertilidade. “É recomendável que as crianças que nascem com testículo fora da bolsa sejam operadas a partir dos seis meses e até um ano. Há estudos que mostram que, a partir de um ano de idade, essas células germinativas já começam a ficar em menor número”, relata, lembrando que, em alguns casos, as crianças precisam passar por duas cirurgias, com um intervalo de seis meses entre elas.
Na adolescência, o destaque é a varicocele -as varizes dos testículos. É a dilatação das veias que drenam o sangue testicular devido à incompetência das válvulas venosas, associada ao refluxo venoso. Assemelha-se às varizes nas pernas das mulheres.
“A cirurgia é indicada quando há algum tipo de alteração no tamanho do testículo ou o adolescente relata dores no local”, diz a urologista.
“Essas três doenças podem ser identificadas por meio de alteração de tamanho na região, inchaço, dores, incômodo e vermelhidão”, completa Leão.
VACINA QUE PROTEGE CONTRA CÂNCER
Outra preocupação da campanha é o vírus HPV, que nos meninos está ligado ao câncer de pênis.
“A incidência é maior em homens do que em mulheres. Quando a gente vê a incidência em mulheres, é em torno de 11% e, nos homens, de 20%. Então, como tem essa associação do HPV com câncer na fase adulta, é importante que a vacina seja feita antes do início da vida sexual”, reforça a médica.
No SUS (Sistema Único de Saúde), a vacina contra o HPV é quadrivalente, voltada a crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. A aplicação é em duas doses. Ela protege contra infecções persistentes e lesões pré-cancerígenas causadas pelos tipos de HPV 6,11,16,18.
Fonte: Folhapress/Patrícia Pasquini
A prevenção de doenças ligadas à saúde sexual e reprodutiva masculina, e o incentivo dos pais para o autocuidado devem começar na infância.
“É importante que exista um relacionamento aberto com a criança e o adolescente. A minha recomendação é estimular o diálogo, no sentido de esclarecer dúvidas sobre sexualidade, doenças, o que é normal ou não”, afirma o urologista Marcelo Wroclawski, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, seccional de São Paulo.
Uma das orientações de Wroclawski é iniciar o autoexame nos testículos por volta dos 12 anos. Ele é importante para detectar sinal precoce de câncer testicular. “Recomendamos que o autoexame seja feito uma vez ao mês, na hora do banho, porque com a água quente a musculatura do saco está mais relaxada, e o testículo fica um pouco mais fácil de ser examinado. Ele deve apalpar um testículo por vez com as duas mãos, usando o polegar e os demais dedos para identificar se há caroço ou algo diferente”, explica o médico.
Aumento do volume testicular, a presença de caroço e o desenvolvimento de hidrocele –acúmulo de líquido dentro da bolsa escrotal– podem indicar a doença. Outro sinal é uma dor imprecisa na parte baixa do abdômen.
Para a cirurgiã urologista pediátrica e coordenadora do Departamento de Cirurgia Pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Fernanda Ghilardi Leão, a adolescência é uma fase difícil, porque os meninos não trazem para os pais as alterações que acontecem no corpo.
“É a fase da vergonha. Então, é importante que os pais mantenham uma proximidade com os filhos e até programem uma avaliação de rotina, porque nessa fase já não vão mais ao pediatra”, orienta a urologista.
Leão também sugere que os pais incentivem o autocuidado no banho, por volta de 4 ou 5 anos de idade. “E conforme eles crescem, explicar sobre a importância de falar sobre qualquer coisa diferente.”
Na casa da assistente social Fabiana de Jesus Paulo Markarian, 43, mãe de Guilherme e Mateus, de seis e 12 anos, respectivamente, a conversa é aberta.
“Aqui em casa a relação é bem íntima mesmo. Eu e meu marido sempre fomos muito abertos, no sentido de expor as coisas, para que eles não escondam nada, principalmente em relação ao corpo”, relata Markanian, que diz que ensinou os filhos a fazer a higiene das partes íntimas.
“O Mateus não tem vergonha de ficar nu na nossa frente e isso é importante, porque às vezes está acontecendo alguma coisa e a mãe precisa ver”, diz.
Em outubro, Mateus foi operado para a retirada da fimose, que é o excesso de pele que recobre o pênis, dificultando que a cabeça seja exposta. Segundo Markanian, ele tem percepção do próprio corpo e quando sente algo errado conta para a mãe. No caso da fimose, ele que trouxe a queixa. “Foi quando percebemos que havia fechado mais”, relata a mãe.
PREVENÇÃO DA SAÚDE SEXUAL MASCULINA NA INFÂNCIA
No último mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instituiu a lei n° 14.694/2023 para prevenção da doença sexual até os 15 anos no país, chamada de Novembrinho Azul.
A campanha ressalta a importância de investigar quadros de dor testicular, do aumento de volume escrotal e ainda o diagnóstico e tratamento precoces de condições que sejam fatores de risco, bem como vacinação contra o HPV (vírus do papiloma humano).
Leão, do Sabará, chama a atenção para doenças infantis masculinas que, se não tratadas, podem trazer problemas, e explica que elas não se resumem a problemas no trato urinário. “Qualquer alteração nessa faixa etária, ou durante a puberdade, quando diagnosticadas de forma preventiva e tratadas corretamente, reduzem as chances de o homem adulto ter graves problemas de saúde, como por exemplo, as infecções recorrentes, câncer testicular e infertilidade”, explica.
No caso da fimose, a cirurgia é recomendada nos primeiros anos de idade, uma vez que o atraso no tratamento pode acarretar em problemas como infecção urinária de repetição, inflamação no pênis e maior incidência de infecções sexualmente transmissíveis.
A criptorquidia ou testículos fora da bolsa, pode surgir em até 45% dos meninos nascidos prematuramente. Acontece quando os testículos, que normalmente são formados no interior do abdômen, descem até o escroto durante o crescimento intrauterino e não chegam ao local correto.
Um dos riscos da criptorquidia é a alta temperatura, explica a médica, que pode reduzir as células germinativas e causar a fertilidade. “É recomendável que as crianças que nascem com testículo fora da bolsa sejam operadas a partir dos seis meses e até um ano. Há estudos que mostram que, a partir de um ano de idade, essas células germinativas já começam a ficar em menor número”, relata, lembrando que, em alguns casos, as crianças precisam passar por duas cirurgias, com um intervalo de seis meses entre elas.
Na adolescência, o destaque é a varicocele -as varizes dos testículos. É a dilatação das veias que drenam o sangue testicular devido à incompetência das válvulas venosas, associada ao refluxo venoso. Assemelha-se às varizes nas pernas das mulheres.
“A cirurgia é indicada quando há algum tipo de alteração no tamanho do testículo ou o adolescente relata dores no local”, diz a urologista.
“Essas três doenças podem ser identificadas por meio de alteração de tamanho na região, inchaço, dores, incômodo e vermelhidão”, completa Leão.
VACINA QUE PROTEGE CONTRA CÂNCER
Outra preocupação da campanha é o vírus HPV, que nos meninos está ligado ao câncer de pênis.
“A incidência é maior em homens do que em mulheres. Quando a gente vê a incidência em mulheres, é em torno de 11% e, nos homens, de 20%. Então, como tem essa associação do HPV com câncer na fase adulta, é importante que a vacina seja feita antes do início da vida sexual”, reforça a médica.
No SUS (Sistema Único de Saúde), a vacina contra o HPV é quadrivalente, voltada a crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. A aplicação é em duas doses. Ela protege contra infecções persistentes e lesões pré-cancerígenas causadas pelos tipos de HPV 6,11,16,18.
Fonte: Folhapress/Patrícia Pasquini