
Em um momento marcado por esperança, mobilização e um forte apelo por justiça hídrica, o município de Simões, no sertão piauiense, sediou nesta segunda-feira (13) a primeira audiência pública sobre a transposição do Rio São Francisco para o estado do Piauí.
O evento, promovido pelo deputado estadual Franzé Silva (PT), deu início a uma série de encontros que visam discutir, com a população e lideranças locais, o futuro do abastecimento de água em uma das regiões mais afetadas pela seca no Brasil.
A audiência, realizada na Câmara Municipal de Simões, reuniu deputados, prefeitos, vereadores, lideranças políticas, representantes de comunidades, técnicos do governo federal e moradores da região. A proposta é clara: tirar do papel um projeto histórico e essencial para levar água potável e segurança hídrica a mais de um milhão de pessoas no semiárido piauiense e baiano.
Segundo estudo preliminar do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), a obra beneficiará diretamente 24 municípios do Piauí e 2 do estado da Bahia, com impacto indireto em mais de 80 cidades, muitas delas enfrentando crises recorrentes de abastecimento, estiagens severas e colapso hídrico em períodos críticos do ano.
A ideia é integrar o Piauí ao projeto de transposição do Rio São Francisco, por meio de um novo eixo que atenda áreas que, historicamente, ficaram de fora dos projetos originais. O chamado Eixo Oeste, atualmente em fase de Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Ambiental e Social (EVTEAS), deve ter seu levantamento concluído até novembro de 2026, conforme anunciado por Bruno Cravo Alves, diretor do departamento de projetos do MIDR, que participou por videoconferência.
Durante a audiência, o deputado Franzé Silva destacou a importância do evento e do projeto. Segundo ele, o encontro marca um passo decisivo na luta contra a seca, problema que atinge centenas de comunidades há décadas. “Essa região vive uma tragédia silenciosa. Não adianta mais vir com carro-pipa todos os anos. Isso só prolonga o sofrimento. A transposição é uma solução definitiva, que trará dignidade ao nosso povo e desenvolvimento para o interior do estado”, afirmou o parlamentar.
Franzé também reforçou a necessidade de engajamento social e apartidarismo em torno da causa. “Essa é uma luta de todos. Vamos realizar outras audiências nos municípios, ouvir a população, entender as realidades locais e construir uma proposta sólida e realista. Precisamos unir forças.”
O evento contou ainda com a presença do deputado Marcus Vinicius Kalume, que enfatizou o caráter estratégico e suprapartidário da obra. Para ele, a transposição representa um divisor de águas no combate à pobreza hídrica. “Um projeto dessa magnitude só avança com união. O apoio do Governo Federal e o compromisso da bancada federal do Piauí são essenciais. Contem com nosso mandato. Essa luta é pela vida, pela dignidade e pelo futuro da nossa região.” Destacou.
O Diretor do Departamento de Projetos do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Bruno Cravo Alves, que participou da audiência por videoconferência, relatou. “Gostaria de agradecer pela oportunidade de participar, ainda que à distância, deste momento tão importante para o estado do Piauí e para toda a região do semiárido. O projeto da transposição do Rio São Francisco para o Piauí representa uma iniciativa estratégica dentro da política nacional de segurança hídrica. Estamos trabalhando com responsabilidade, seriedade e compromisso técnico para garantir que esse sonho se torne realidade. O Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Ambiental e Social (EVTEAS) está em andamento, sendo conduzido com base nos critérios mais rigorosos de planejamento e sustentabilidade. A previsão é que a conclusão do estudo ocorra até novembro de 2026. A partir disso, teremos os dados necessários para avançar na elaboração dos projetos executivos e buscar a inclusão definitiva da obra no novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Sabemos do sofrimento histórico das populações que convivem com a escassez de água, e por isso reforçamos que o papel do Ministério é, acima de tudo, ouvir a sociedade, trabalhar com transparência e buscar soluções estruturantes e permanentes. Esse projeto não é apenas uma obra. É um marco de desenvolvimento regional, de justiça social e de dignidade humana. Contem conosco, e contem com o empenho do Governo Federal para transformar essa realidade.” Concluiu.
Como sede da primeira audiência, Simões tornou-se símbolo da luta pela transposição. A cidade, que enfrenta grave escassez hídrica, representa dezenas de outras no estado que há anos dependem de soluções emergenciais, como carros-pipa, poços artesianos e cisternas de captação de água da chuva.
O prefeito de Simões–PI, Magno Dantas, destacou a importância do projeto tanto no curto quanto no longo prazo. “Essa água vai matar a sede do nosso povo e também fortalecer nossa produção agrícola e pecuária. Água é vida, é dignidade, é geração de renda. Ficamos honrados por sediar esse momento histórico. Nosso partido é a água. Nosso partido é o povo.” Disse.
A presidente da Câmara Municipal de Simões, vereadora Gracinha Xavier, reforçou que a audiência representa um marco coletivo. “Esse é apenas o primeiro passo. A seca não escolhe cor partidária. Essa é uma audiência apartidária, com foco no que realmente importa: melhorar a vida das pessoas.”
A audiência também contou com a presença do prefeito de Caridade do Piauí, Clei Carvalho, do prefeito de Afrânio–PE, Cloves Ramos, e da liderança política Toninho da Caridade.
Na ocasião, o ex-prefeito de Caridade, Toninho da Caridade, relembrou o histórico de lutas pela inclusão do Piauí na transposição. “Na época, o eixo oeste ficou de fora. Agora, temos o presidente Lula, o governador Rafael Fonteles e toda a bancada unidos. Com o apoio popular e político, vamos incluir esse projeto no novo PAC e realizar o sonho de levar água ao nosso povo.”
O cronograma das próximas audiências públicas deverá contemplar os 26 municípios potenciais beneficiários. A ideia é construir uma proposta sólida, participativa e tecnicamente viável, com base nas necessidades específicas de cada região.
O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional é o responsável pela elaboração dos estudos técnicos, que avaliarão o melhor traçado do canal, custos, impactos ambientais e sociais, e a viabilidade de execução da obra nos moldes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A transposição do São Francisco para o Piauí é mais do que um projeto hídrico — é uma estratégia de desenvolvimento regional. Com a chegada da água, será possível estimular a agricultura irrigada, fortalecer a pecuária, promover segurança alimentar e atrair investimentos para áreas hoje economicamente estagnadas.
Além disso, a melhoria da qualidade de vida com acesso regular à água potável deve reduzir índices de migração, doenças e vulnerabilidade social. Especialistas afirmam que o acesso à água é um direito humano e deve ser tratado como prioridade de Estado.
A audiência pública em Simões foi o pontapé inicial de um projeto grandioso que pode mudar o destino de milhares de famílias no semiárido nordestino. A transposição do Rio São Francisco para o Piauí não é apenas uma obra de infraestrutura — é uma promessa de futuro.
Com apoio popular, articulação política e compromisso técnico, a esperança agora é que as águas do “Velho Chico” encontrem caminho até os rincões piauienses, levando vida onde hoje reina a seca.
Municípios diretamente beneficiados
Alegrete do Piauí; Belém do Piauí; Campo Alegre do Fidalgo; Capitão Gervásio Oliveira; Caridade do Piauí; Coronel José Dias; Curral Novo do Piauí; Dirceu Arcoverde; Dom Inocêncio; Francisco Macedo; Jacobina do Piauí; Lagoa do Barro do Piauí; Massapê do Piauí; Padre Marcos; Patos do Piauí; Paulistana; Queimada Nova; São Francisco de Assis do Piauí; São João do Piauí; São Julião; São Lourenço do Piauí; Simões; Vila Nova do Piauí; Remanso (BA); Sento Sé (BA) e São Raimundo Nonato.
Fotos da primeira audiência pública em Simões