Djalma Filho volta a negar envolvimento na morte de Donizetti Adalto; ‘mereço ter o nome recuperado’

O ex-vereador e advogado Djalma Filho, de 63 anos, voltou a negar envolvimento no assassinato de Donizetti Adalto dos Santos durante depoimento no Tribunal de Júri. O jornalista foi espancado e morto a tiros no dia 19 de setembro de 1998, no bairro Primavera, Zona Norte de Teresina. O julgamento ocorre nesta quarta-feira (27), 24 anos após o crime, depois de uma série de adiamentos.

O ex-vereador e advogado Djalma Filho é acusado de ser o mandante da morte de Donizetti Adalto. Os motoristas Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, Fabrício de Jesus Costa Lima e os policiais civis João Evangelista de Meneses e Ricardo Luís Alvez de Sousa são acusados de participar e presenciar o crime.

Em 1998, Djalma e Donizetti Adalto eram candidatos a deputado estadual e federal, respectivamente, pelo mesmo partido, o PPS. “Nós estávamos em uma parceria que juntava o que eu tinha de credibilidade, que merecia a votação recebida, e ele que tinha algo a trazer para uma campanha, que é a popularidade. Eu digo que essa combinação foi expressiva e bem aceita”, comentou Djalma.

O réu relatou que os dois haviam participado de uma reunião sobre a campanha eleitoral quando ocorreu o crime. Donizetti e Djalma Filho estavam em um carro passando pela Avenida Marechal Castelo Branco, quando um motoqueiro parou o carro. Djalma conduzia o veículo e Donizetti estava no banco de passageiro.

O réu relatou que abaixou o vidro do veículo por ter se assustado com a abordagem. Em seguida, ele relatou ter saído do carro correndo. Djalma afirmou ter visto Donizetti saindo do veículo também. Ele disse que foi em direção a outro veículo para não ser baleado.

“Quando eu me afasto do carro e vou para o veículo de Brito, eu tenho como me desvencilhar dos disparos”, disse o réu.

O ex-vereador relatou que levou Donizetti para o pronto-socorro, contudo, o jornalista não resistiu e faleceu.

“Vossa excelência, eu não tenho nenhuma participação no crime. Vossa excelência está diante de alguém que merece ter o nome recuperado para honrar a minha família e a memória de meu pai”, afirmou o réu durante o julgamento.

Depoimentos

A sessão acontece na 1ª Vara do Tribunal Popular do Júri, na capital. Foram ouvidas seis testemunhas, além do acusado. Na primeira vez que a sessão foi adiada, o acusado alegou que não tinha advogado. Na segunda, o advogado que assumiu o caso pediu tempo para se inteirar dos autos do processo. Em outra tentativa, no dia 24 de março, a defesa não pode comparecer.

Em depoimento, o policial militar Raimundo Adalberto Viana relatou que estava a caminho de casa quando presenciou os quatro acusados dentro de um veículo por volta da meia-noite do dia de setembro de 1998. Segundo ele, três dos ocupantes desceram para agredir e efetuar disparos de arma de fogo contra a vítima.

A comerciante Aurilene da Silva Alves, que, na ocasião, morava na Avenida Marechal Castelo Branco, no bairro Primavera, em Teresina, também presenciou o crime.

“Eu lembro que era véspera do meu aniversário, eu e meu ex-noivo decidimos assistir um filme. A gente colocou pra rebobinar a fita e fomos sentar na calçada. Foi quando a gente viu um carro escuro parado, normal, uma avenida. Pouco tempo depois, parou um segundo carro. Esse carro fez a volta e parou do outro lado. Logo depois, a gente ouviu os tiros, assustou e recuou”, relatou.

Réu alegou ter sofrido tentativa de assalto

Conforme relatos dos acusados e de outras testemunhas no processo, no dia do crime, Djalma teria conduzido o veículo com Donizetti no banco do passageiro, dando ordem para que Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, em uma Kombi usada em campanha política, seguisse o carro.

Nesta quarta (27), Maria Gorete Moura Rodrigues prestou depoimento como informante. Na ocasião, a mulher trabalhava com o então vereador Djalma Filho. Durante o relato, ela revelou que, no dia do crime, após o fim do expediente, aguardava o réu em um restaurante.

“Fomos orientados por ele a ir para um restaurante. Lá, ele me ligou [pedindo] que a gente aguardasse que ele estava chegando. Em seguida, ligou novamente e eu ouvi uns gritos. Aí desliguei, achei até que era um trote. [Ligou] de novo e ouvi a palavra assalto. Nisso passei pro Álvaro e só ouvi ele dizer ‘pronto-socorro’. Foi quando, de fato, vi que tinha acontecido alguma coisa”, disse.

Segundo Maria Gorete, após o telefonema, ela e o amigo Álvaro foram ao Hospital Getúlio Vargas (HGV) para encontrar Djalma.

“Lá no hospital, Djalma estava muito nervoso, não dizia coisa com coisa. De repente, chegou outro rapaz e me disse que Donizetti havia sido baleado. Depois uma pessoa disse que ele morreu. Dali, a família do Djalma levou ele pro Prontocor, acho que por problema de saúde. Depois o que soube foi pela mídia”, completou.

“Era como se fôssemos uma família”

Em 1998, a executiva de contas Patrícia Gonçalves da Silva coordenava a campanha eleitoral de Djalma Filho e do então candidato a deputado federal Donizetti Adalto. Durante depoimento, a mulher relatou uma convivência amigável entre réu e vítima.

“A cada 10 votos do Donizetti, quatro eram convertidos para Djalma. Na minha cabeça, pelo histórico que ele tinha como político, tanto ele como Donizetti seriam eleitos. Nunca, nem em viagem, e eu ficava praticamente 24 horas com eles dois, presenciei uma alteração de voz entre eles. As despesas eram divididas entre os dois e nunca presenciei uma discussão entre eles”, informou.

Em julgamento, a mulher também relatou que foi contra a contratação do motorista de Donizetti, Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, um dos acusados do crime.

“A gente vivia numa harmonia muito grande e quando ele chegou, ele chegou com uma arma, botou em cima da mesa e eu disse ‘não quero arma dentro do Comitê’. Eu me assustei com aquilo, a gente não andava com segurança. Era muito leve a campanha e, quando ele chegou armado, chamei o Donizetti e disse ‘você contratou ele, mas não quero ele dentro do Comitê, é seu segurança, você deixa ele lá fora’”, contou.

Tribunal do Júri

O juiz Antônio Nollêto determinou o julgamento do caso pelo Tribunal do Júri, que julga crimes dolosos contra a vida, mais de 20 anos depois, depois que foram incluídos novos laudos periciais, de análises produzidas ainda em 1998. As análises foram feitas em armas de fogo que teriam sido utilizadas no crime.

A inclusão dos laudos periciais no processo foi da defesa do ex-vereador Djalma Filho em 2019 e o juiz acolheu parcialmente. Outras solicitações semelhantes por perícias e laudos técnicos já haviam sido feitas antes pela defesa.

De acordo com o laudo, dois projéteis encontrados no corpo de Donizetti Adalto foram disparados por uma das armas analisadas, um revólver calibre 38 da marca Rossi.

Jornalista Donizetti Adalto foi morto em setembro de 1998 — Foto: Reprodução/Youtube

Jornalista Donizetti Adalto foi morto em setembro de 1998 — Foto: Reprodução/Youtube

Os laudos periciais teriam sido encontrados apenas em 2021. Com a inclusão no processo, o julgamento estava pronto para ser iniciado, 24 anos após o crime.

São acusados do crime e irão a julgamento:

  • o ex-vereador e professor universitário Djalma Filho;
  • Fabrício de Jesus Costa Lima, motorista;
  • João Evangelista de Meneses, conhecido como ‘Pezão’, policial civil;
  • Ricardo Luís Alvez de Sousa – policial civil;
  • Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, motorista.

O crime

O jornalista paraense Donizetti Adalto foi espancado e assassinado a tiros na madrugada do dia 19 de setembro de 1998, na Avenida Marechal Castelo Branco, no bairro Primavera, em Teresina.

Na época ele era candidato a deputado federal pelo PPS. O ex-vereador Djalma Filho estava no carro com a vítima e, conforme denúncia do Ministério Público, teria sido o mandante do crime.

Conforme relatos dos acusados e de outras testemunhas no processo, Djalma teria conduzido o veículo com Donizetti no banco do passageiro, dando ordem para que Sérgio Ricardo do Nascimento Silva, em uma Kombi usada em campanha política, seguisse o carro. Assim também, outro carro deveria acompanhá-los para que Djalma pudesse fugir após o crime.

Em um determinado momento, conforme o processo, a Kombi interceptou o veículo onde estava Donizetti e dois homens desceram do veículo, que seriam Sérgio Ricardo do Nascimento e João Evangelista de Meneses, o Pezão. Dois tiros foram disparados por eles e o jornalista morreu no local. Um deles teria dado ainda coronhadas em Donizetti, para confirmar se estava morto.

Djalma foi visto correndo em direção ao outro veículo, assim como o autor dos disparos retornou à Kombi. Em depoimento, o ex-vereador Djalma filho afirmou que os dois foram abordados por homens em motocicletas, o que foi negado pelas testemunhas e pelos outros envolvidos no caso, alguns dos quais confessaram participação.

Valores entre R$ 1 mil e R$ 6 mil teriam sido pagos para os envolvidos no crime. Quebra de sigilo telefônico e bancário, conforme a denúncia, indicaram a relação entre os acusados.

Fonte: G1 Piauí