Entre 2001 e 2021, a Câmara dos Deputados gastou R$ 6,4 bilhões, em valores corrigidos, com a cota parlamentar – a verba que cada parlamentar federal tem para reembolsos como aluguel de carros, combustível, passagens aéreas, alimentação, contratação de serviços, entre outros. Nesse período de duas décadas, as despesas somadas equivalem ao orçamento executado (R$ 6,5 bilhões) em 2020 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), durante a pandemia global do novo coronavírus.
Desde 2020, com o início da pandemia, a maioria dos deputados tem trabalhado em home office. Mesmo assim, só nos três primeiros meses de 2021, a Câmara desembolsou R$ 32,2 milhões com a cota parlamentar. Os dados das despesas com a cota são da própria Câmara, por meio de sua assessoria.
Criada em meio a uma pressão para o aumento salarial dos deputados em Brasília, a reserva desses recursos para reembolsar parlamentares gerou um efeito cascata no País. Ainda no início dos anos 2000, as Assembleias Legislativas dos 26 Estados e do Distrito Federal criaram normas para as verbas indenizatórias ou cotas parlamentares com o objetivo de financiar o exercício do cargo. Câmaras Municipais espalhadas pelos 5.572 municípios brasileiros também surfaram na onda e adotaram o ressarcimento de gastos.
No Congresso, o uso de dinheiro público para essa finalidade motivou recorrentes denúncias de desvio e irregularidades ao longo desses 20 anos. O dinheiro que cada um dos 513 deputados pode gastar varia de acordo com o Estado pelo qual foi eleito. A cota mensal atual oscila de R$ 30,8 mil (Distrito Federal) até R$ 45,8 mil (Roraima).
Em julho de 2020, o Estadão revelou que deputados da base governista e da oposição transformaram a divulgação da atividade na Câmara num negócio privado. Eles recorreram a empresas contratadas com a verba de gabinete e assessores pagos pela Casa para gerir canais monetizados no YouTube, com vídeos que arrecadam recursos conforme o número de visualizações. Dias após a publicação da reportagem, um ato da Mesa Diretora proibiu deputados de usarem o dinheiro da cota para serviços que gerem lucro na internet.
Em 2017, o uso irregular da verba levou o Ministério Público Federal (MPF) a apresentar à Justiça 28 denúncias contra 72 ex-deputados por envolvimento na chamada “farra” das passagens aéreas. As acusações formais foram pelo crime de peculato (desvio de dinheiro público). Quando presidiu a Câmara pela segunda vez, entre 2009 e 2010, o ex-presidente Michel Temer (MDB) limitou o uso de passagens para os próprios deputados ou seus assessores.
25 assessores. Além da cota, os deputados recebem salário (subsídio) mensal de R$ 26,7 mil e têm uma verba de gabinete de R$ 111,7 mil ao mês para contratar até 25 secretários – que podem trabalhar em Brasília ou no Estado de origem.
A cota parlamentar foi uma ideia do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), quando ocupava a presidência da Câmara. Nasceu com o nome de verba indenizatória. O tucano, que hoje preside a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa, estava sendo pressionado pelos deputados por aumento de salários A iniciativa foi reproduzida em todo o País. Em janeiro de 2003, sob a presidência de Ramez Tebet (1936-2006), do então PMDB-MS, o Senado adotou a fórmula de reembolso para os 81 senadores..
Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a criação de uma cota ocorreu três meses após sua implementação na Câmara. No Maranhão, o deputado estadual é ressarcido por despesas mensais em até R$ 41,7 mil.
Na Câmara Municipal de São Paulo, que tem seu “auxílio-encargos gerais” desde 2003, cada parlamentar recebe R$ 25,8 mil mensais para essas despesas (gasto de R$ 17 milhões ao ano). Pagamentos a empresas de marketing e manutenção de sites que promovem os próprios vereadores lideram os gastos. O vereador Felipe Becari (PSD), que se elegeu em 2020 com uma agenda de defesa animal, gastou R$ 19,6 mil com marketing e hospedagem de sites. Segundo sua equipe, o site serve para receber denúncias de maus-tratos contra bichos. E a empresa de marketing presta consultoria para propor projetos que conversem com outros públicos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo