Quatro advogadas em Teresina registraram boletim de ocorrência após ataques, a maioria de cunho sexual, pelo WhatsApp. As ofensas que viralizaram pelas redes sociais foram atribuídas ao advogado Francisco da Silva Filho, esposo da atual vice-presidente da Ordem dos Advogados no Piauí (OAB-PI). Segundo Ravena Mendes, uma das vítimas, a discussão teve início após críticas à atual gestão.
A discussão ocorreu na noite deste domingo (21) e se estendeu até a madrugada. Nos áudios há agressões verbais, xingamentos e até ameaças. “Se tu tiver um macho na tua casa vem aqui pra eu comer na bala”, “vou na tua casa bater em tu e na tua família”, “ache ruim, dê parte, vamos pra Justiça. Me respeite, sua (xingamento), “dê parte ou mande um macho da sua casa vir onde eu tô”, “doutora a senhora entra, mas se arrebenta. Sem as instruções de um profissional, a senhora entra na (novo xingamento). Em outro áudio, o advogado chega a chamar as vítimas de “pilantra” e “cachorra”.
A discussão envolveu as advogadas Ravena Mendes, Patricia Alencar, Júlia Maria e Glenda Cunha que registraram boletim de ocorrência por difamação, injúria racial, violência psicológica, violência sexual e ameaça. O grupo onde ocorreu a discussão é formado apenas por advogados e tem 256 participantes.
“A gente estava fazendo críticas à atual gestão da OAB-PI e acredito que, por ser casado com a vice-presidente da Ordem, ele não gostou e começou a agir com deboche, piada. A gente revidou. Depois ele teceu comentários de baixo calão e uma sequência de agressão. Quando a Dra Glenda tentou me defender foram ameaças. Houve agressão de cunho sexual e até racista, por eu ser negra. Em um dos áudios ele pergunta se na minha raça tem macho. As críticas que fizemos não eram direcionadas a uma pessoa, mas à atual gestão da OAB. Daí as agressões começaram contra mim, mas se estenderam a mais três colegas. Ele tem porte de arma e uma das questões é para que derrubem esse porte, pois ele não tem psicológico para andar armado “, conta a advogada Ravena Mendes.
Para a advogada, o tom agressivo das ofensas se deu por se tratar de mulheres. Além do BO, as vítimas pretendem representar criminalmente.
“Vísivel a violência de gênero, desprezo e menosprezo por sermos mulheres. Se a discussão envolvesse homens, ele não teria sido tão agressivo”, disse Ravena Mendes.
OAB SE MANIFESTA
Diante dos fatos ocorridos no grupo de Whatsapp não institucional intitulado “OAB Piauí 2”, na noite do domingo (21/08), a Presidência da OAB Piauí determinou, de ofício, ao Tribunal de Ética e Disciplina, a instauração de procedimento administrativo para apuração de todas as condutas incompatíveis com o exercício e a dignidade da advocacia no episódio mencionado.
Por oportuno, determinou ainda a apuração da utilização indevida de símbolos e nomenclaturas privativos da Ordem dos Advogados do Brasil.
A OAB-PI, ao tempo em que não compactua com posições pessoais depreciativas da dignidade da pessoa humana e da advocacia, repudia veementemente todos os tipos de violências de gênero, especialmente contra a mulher.
A Ordem trabalha diariamente pela preservação de direitos e tem como obrigação moral zelar pela ética e por resguardar os direitos da advocacia, indistintamente.
Dessa forma, a instituição reitera a disposição para, através da Comissão da Mulher Advogada e de todos os seus órgãos, adotar as providências necessárias à restauração do equilíbrio e do decoro, a exemplo das medidas já adotadas.
Celso Barros Coelho Neto
Presidente da OAB-PI
Fonte: Cidade Verde e Portal É Noticias