Um novo estudo publicado na revista científica Nature Human Behaviour sugere que o acesso à internet pode estar relacionado a níveis mais altos de satisfação com a vida, melhor saúde autoavaliada e menos sintomas de depressão entre adultos com mais de 50 anos.
Isso é creditado ao fato de que a tecnologia, além de facilitar o acesso a informações, proporciona conexões sociais -aspectos importantes para o bem-estar de adultos de meia-idade e idosos.
Liderado pelo HKU Musketeers Foundation Institute of Data Science, em Hong Kong, o trabalho analisou dados de seis coortes internacionais (estudos observacionais com grupos de pessoas), totalizando 87.559 participantes em 23 países, entre eles o Brasil.
As coortes foram selecionadas a partir de lista fornecida pela plataforma Gateway to Global Aging Data com base em dois critérios: disponibilidade de informações sobre o uso da internet e pelo menos dois períodos de acompanhamento.
Os autores perceberam uma associação mais benéfica entre o uso de internet e sintomas depressivos em participantes com as seguintes características: 65 anos ou mais, não casados, com menos contato social, que bebiam menos de uma vez por semana, com limitações nas atividades diárias e com condições crônicas.
Em 2019, aproximadamente 14% das pessoas com 55 anos ou mais no mundo experimentaram quadros relacionados à saúde mental, como depressão, segundo o estudo Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors.
No Brasil, há cerca de 56 milhões de pessoas acima de 50 anos, que correspondem a 27,71% do total de habitantes, segundo o último Censo. Para captação das informações no país, a equipe de Zhang utilizou os dados do Elsi-Brasil (Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros), coordenado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pela Fiocruz-MG (Fundação Oswaldo Cruz) com financiamento do Ministério da Saúde.
O Elsi-Brasil foi realizado em duas partes– a primeira iniciada em 2015, com a participação de 9.412 indivíduos e a segunda iniciada em 2019, com 9.949 participantes de todas as regiões do país.
Uma das beneficiadas pelas vantagens da internet é a servidora pública aposentada Joelita Moreno, 72. A moradora de Fortaleza (CE) é viúva e utiliza a internet com frequência para se comunicar com os filhos, irmãos e amigos, além de pesquisar receitas culinárias e postar vídeos dos treinos de musculação que faz três vezes por semana em suas redes sociais para incentivar outros idosos à prática de atividade física.
“A internet me proporciona coisas boas e ruins, mas não vivo on-line. Gosto de encontrar meus amigos, tomar um café com as vizinhas, fazer churrascos na minha casa. Isso me faz feliz e é bem melhor que o virtual”, comenta. Apesar do uso constante, ela não se sente segura. “Sempre surgem novos golpes e muitas fake news circulam. Quando tenho dúvida recorro aos meus filhos”.
Para essa população, a inclusão digital demanda ampliação do acesso e ações relacionadas à educação sobre segurança on-line e uso responsável, avalia o médico geriatra Milton Crenitte, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
“A internet não deve substituir a interação social presencial, mas complementá-la. Centros de convivência, programas de incentivo à atividade física e ações em bibliotecas públicas podem ajudar esse público a estabelecer relações sociais“, diz.
Os autores do estudo da Nature Human Behaviour alertam que, apesar de o acesso à internet ser uma estratégia eficaz para melhorar a saúde mental geral em pessoas de meia-idade e idosos, não existe uma abordagem única que funcione para todos.
A formulação de políticas públicas precisa considerar diferenças sociodemográficas, comportamentos de saúde e as condições físicas dessa população. Estratégias de inclusão digital personalizadas poderiam orientar melhor iniciativas de saúde pública voltadas à melhoria da saúde mental, contribuindo para o envelhecimento saudável.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o percentual de idosos acima de 60 anos que utilizavam a internet no Brasil em 2022 era de 62,1%. O acesso, todavia, ainda é desigual entre as regiões. O maior percentual concentrava-se no Centro-Oeste (69,4%) e o menor, no Nordeste (51,3%). Entre as unidades federativas, o Distrito Federal liderava o percentual de acessos entre idosos (82,2%), enquanto o Piauí (45,9%) tinha a menor taxa.
Por Folhapress / Giselle Soares