Trindade, no Polo Gesseiro do Araripe, disputa instalação de porto seco da Transnordestina

Obras da Ferrovia Transnordestina - Foto: Marcio Ferreira/MT
Obra da Ferrovia Transnordestina - Foto: Marcio Ferreira/MT

Mesmo após a exclusão do trecho Salgueiro-Suape do traçado da Ferrovia Transnordestina, em 2022, Pernambuco continua na disputa por uma posição estratégica na nova logística ferroviária do Nordeste. A cidade de Trindade, no Sertão do Araripe, desponta como uma forte candidata para sediar um dos portos secos previstos no projeto da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), empresa responsável pela obra.

A companhia estuda a implantação de pelo menos cinco portos secos ao longo da ferrovia, que corta os estados do Piauí, Ceará e Pernambuco. As estruturas são consideradas peças-chave no modelo de logística integrada da TLSA, voltado para o escoamento de cargas e o desenvolvimento de polos produtivos no interior da região.

Diferente dos portos tradicionais, os portos secos não têm conexão com vias aquáticas. Localizados no interior, funcionam como centros logísticos alfandegados interligados a modais terrestres — rodovias e ferrovias — e servem como pontos de transbordo, armazenagem, despacho aduaneiro e distribuição de cargas. Eles oferecem vantagens fiscais e operacionais semelhantes às de portos marítimos, sendo fundamentais para destravar o potencial econômico de regiões afastadas do litoral.

A relevância econômica de Trindade, inserida no maior polo gesseiro do Brasil, é um dos fatores que colocam a cidade no centro da disputa. A produção de gesso e derivados abastece o mercado nacional e carece de uma infraestrutura de escoamento mais eficiente. Um porto seco no município poderia reduzir custos logísticos, aumentar a competitividade da cadeia produtiva e atrair novos investimentos para a região.

Até o momento, apenas um dos portos secos está oficialmente confirmado: será instalado em Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, com investimento de até R$ 1 bilhão por parte da Value Global Group. O empreendimento ocupará 360 hectares e tem previsão de conclusão até 2027. Segundo o Governo do Ceará, o porto seco deve gerar cerca de 1.300 empregos e faturar R$ 300 milhões por ano.

Além de Trindade, a TLSA avalia implantar estruturas semelhantes em Eliseu Martins (PI), onde será erguido um terminal próprio da empresa; em uma área entre Missão Velha (CE) e Salgueiro (PE); e em um trecho entre o Porto do Pecém e Iguatu (CE).

Em paralelo aos estudos técnicos, a movimentação política para garantir a presença de Pernambuco no mapa logístico da ferrovia também avança. No mês de junho, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, esteve em Agrestina (PE) para discutir a instalação de uma plataforma multimodal com porto seco na região, durante encontro com representantes do Consórcio de Municípios do Agreste e Mata Sul de Pernambuco (Comagsul). A proposta é considerada estratégica para consolidar o estado na nova matriz de transporte e exportação nordestina.

Enquanto define a localização dos grandes terminais alfandegários, a TLSA prepara o início da operação da ferrovia já para 2025, por meio da chamada “operação assistida”. A fase inicial contará com terminais intermodais — estruturas menores, sem função aduaneira, mas aptas a promover o transbordo entre os modais ferroviário e rodoviário.

Dois desses terminais intermodais já estão definidos: um em Bela Vista do Piauí (PI), sob gestão da própria TLSA, e outro em Iguatu (CE), que será operado por empresa privada. A expectativa é que essas estruturas permitam a ativação gradual do transporte de cargas até o litoral, conectando os estados produtores ao Porto do Pecém, no Ceará.

De acordo com o presidente da TLSA, Tufi Daher Filho, em entrevista recente ao Diário do Nordeste, a meta da empresa é iniciar a operação comercial da ferrovia até o fim de 2025.

A inclusão de Trindade entre os municípios cotados para receber um porto seco reforça o protagonismo do Sertão do Araripe na nova configuração logística da região. Com localização privilegiada, vocação produtiva e infraestrutura em expansão, o município se apresenta como uma alternativa viável e estratégica para integrar o interior de Pernambuco à malha ferroviária nacional, consolidando o estado no centro das futuras rotas de exportação do Nordeste.

Com informações do JC UOL