As TV boxes irregulares, que prometem acesso indevido a canais e serviços de streaming, podem ter uma “pane geral”. É o que propõe um dos vencedores do concurso criado para receber soluções para combater essas caixinhas, também conhecidas como IPTVs piratas.
No fim de setembro, o desenvolvedor de sistemas Daniel Lima e outros cinco colegas que trabalham na área da tecnologia da informação ganharam o concurso Hackathon TV Box, organizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O grupo apresentou uma proposta que inutiliza as caixinhas por meio de uma atualização forçada. A Anatel disse que está conversando com os participantes do concurso, mas não confirmou se vai implementar as ideias.
“Hoje, a agência costuma pedir para as operadoras bloquearem servidores usados pelas caixinhas irregulares. Mas é como enxugar gelo: os endereços dos servidores na internet são atualizados, o que faz as caixinhas voltarem a funcionar.”
Por isso, a ideia do grupo de Daniel foi ir além do que a Anatel já faz para limitar o uso de aparelhos sem autorização.
FUNCIONA ASSIM: a pedido da Anatel, a operadora que receber a tentativa de uma TV box de abrir um servidor pirata pode direcionar o acesso para outro endereço, em que há um arquivo de atualização que é baixado automaticamente e pode impedir o funcionamento da caixinha.
“Conseguimos adicionar um código que a inutiliza totalmente”, disse Daniel. “Nossa solução utiliza recursos avançados de rede para possibilitar que o software da caixinha seja alterado, e o usuário seja impossibilitado de acessar conteúdo protegido”.
O método é possível porque são as operadoras (ou ISPs, sigla em inglês para “provedor de serviços de internet”) que administram a comunicação de rede.
“Como a Anatel controla os ISPs, ela consegue obrigá-los a implementar os recursos avançados de rede que tornam possível à caixinha receber um pacote alterado”, explicou Daniel.
“No momento em que a Anatel implementar a solução, vai ser uma pane geral na maioria das caixinhas irregulares que estão em uso”, disse Daniel.
Para evitar a inutilização de TV boxes regulares, é necessário definir padrões que afetem somente as caixinhas piratas, como as informações que o próprio aparelho envia sobre si na comunicação com a internet e os endereços que ele busca acessar.
O que falta para o plano sair do papel
O concurso teve a participação de profissionais e estudantes de áreas como cibersegurança, rede e desenvolvimento. Além do grupo de Daniel, outras duas equipes foram premiadas pela Anatel.
Agora, com as propostas apresentadas, fica a cargo da própria Anatel implementar as soluções (ou parte delas). Isso porque trata-se de uma solução de larga escala, que exige a participação de órgãos públicos, disse Daniel.
“Para o combate à pirataria, é necessária uma parceria entre todos. É um assunto extremamente complexo, que gera bastante prejuízo financeiro para provedores de internet e provedores de conteúdo”.
A Anatel informou ao g1 que “tem considerado todos os conceitos e ideais que foram apresentados como melhoria nos processos internos e externos” e que tem feito reuniões com os participantes do hackathon para adaptar as propostas às metodologias já usadas pela agência.
O g1 questionou se as soluções vencedoras serão implementadas e quando isso aconteceria, mas não houve resposta da agência.
Somente em 2023, a Anatel ordenou a derrubada de cerca de 3.900 servidores usados por TV boxes irregulares. Mas a mudança constante dos endereços desses servidores faz o trabalho se tornar permanente para a agência.
Um dos alvos da Anatel são os aplicativos usados em transmissões piratas de futebol. Em uma das operações, o órgão bloqueou serviços ilegais durante a última rodada de Brasileirão de 2023.
Quais são os riscos das caixinhas irregulares?
Além de distribuírem conteúdo pirata, as caixinhas irregulares podem trazer prejuízo para usuários. De acordo com a Anatel, os aparelhos não têm assistência técnica e não garantem segurança de dados, o que pode torná-los alvo de ciberataques.
A agência analisou as caixinhas e identificou que algumas podem incluir arquivos maliciosos que assumem o controle do aparelho e capturam dados de usuários, como informações financeiras e arquivos armazenados em outros dispositivos na mesma rede.
Comunicado da Anatel
“A Anatel está realizando reuniões com os participantes do Hackathon além dos premiados, pois todas as equipes apresentaram soluções que foram vistas como oportunidade de melhoria no processo realizado pela Agência. O objetivo das discussões tem sido adaptar as soluções apresentadas as metodologias já utilizadas pela Agência.
Boa parte das propostas estão alinhadas com o que a Anatel já realiza. Desta forma, a Agência tem considerado todos os conceitos e ideias que foram apresentados como melhoria nos processos internos e externos da Agência, que permitirão otimizar a segurança da infraestrutura de telecomunicações e dos usuários.
O processo já está em andamento, pois é contínuo, com a Anatel trabalhando junto com os participantes.”
Fonte: g1