Para lidar com o estresse do fim do ano letivo de 2017-2018, que terminou oficialmente nesta semana nos países do Hemisfério Norte, os estudantes da Universidade de Utah (UUtah), nos Estados Unidos, ganharam um apoio inusitado: o “armário do choro”. Batizada de “cry closet” em inglês, a instalação apareceu na Biblioteca J. Willard Marriott, um dos principais prédios da universidade, e levantou um grande debate sobre até que ponto as angústias dos universitários são legítimas e merecem um atendimento cuidadoso, e quando o problema não passa de “mimimi” de jovens adultos.
Em 24 de abril, dois dias depois que foi instalado, o armário acabou indo parar no perfil pessoal de uma estudante da UUtah. A jovem publicou três fotos do espaço: do lado de fora, uma pequena casinha pintada de branco com uma única porta. Do lado de dentro, um pequeno cômodo forrado com tecido preto e “equipado” com vários bichos de pelúcia. A terceira foto mostrava as explicações sobre o armário:
“Um espaço seguro para estudantes estressados, também conhecido como ‘O armário do choro'”, anunciada a instalação.
“Esse espaço tem como objetivo oferecer um local para estudantes que estão se preparando para os exames finais fazerem um intervalo de dez minutos.”
O projeto também tinha regras definidas:
- Bater antes de entrar
- Apenas uma pessoa no armário por vez
- Limite seu tempo no armário a não mais do que dez minutos
- Apague a luz e desligue o cronômetro antes de sair
- Use a hashtag #cryclosetuofu se você for publicar nas mídias sociais
O tuíte espalhou rapidamente e já recebeu mais de 166 mil retuítes, além de 462 mil curtidas. Nele, a aluna diz: “Então, minha escola instalou um armário do choro na biblioteca (…) o que é a educação superior” (veja abaixo).
Obra de arte
A viralização fez com que muitos internautas questionassem se jovens adultos em idade universitária já deveriam ter condições de lidar com as próprias emoções e agonias sem a necessidade de um “espaço seguro” com bichos de pelúcia.
Por isso, a estudante que publicou as fotos precisou explicar, em seguida, que tratava-se de um projeto realizado por Nemo Miller, uma estudante da própria Universidade de Utah.
A própria universidade se pronunciou em defesa de Nemo, afirmando que a instalação da obra foi aprovada pela instituição e que, além do “humor”, o objetivo do projeto era fazer uma provocação. Além disso, a UUtah afirmou que o projeto era temporário – o “armário do choro” foi desmontado em 2 de maio, depois do último exame do ano letivo.
“Foi uma tentativa de humor, sim, mas é também uma obra de arte destinada a provocar emoções, reflexão e conversas, o que a artista aparentemente conseguiu. Então esperamos que ela tenha recebido créditos acadêmicos com isso. Ela certamente merece. E sim, [o projeto] foi aprovado antes de ser instalado”, afirmou a instituição, em seu perfil oficial no Twitter.
Nemo Miller já havia sido destaque em 18 de abril em uma série de matérias no site oficial da Universidade de Utah com o perfil de diversos estudantes. Mas, depois da enorme repercussão de seu trabalho, a jovem, que é aluna da Faculdade de Belas Artes da UUTah, ganhou um novo perfil no site em 30 de abril.
Intervenção social
Nele, a instituição explica que Nemo está cursando cerâmica como sua habilitação principal, mas também estuda escultura como habilitação minoritária. O projeto do “armário do choro” fez parte da disciplina de marcenaria, e a proposta era “criar algo que funcionasse como intervenção social”, com inspiração nos movimentos dos anos 1990 e 2000 que usam o cotidiano das pessoas e os espaços públicos como meios de intervenção, para mudar a função ou o significado desses espaços.
Ainda de acordo com a universidade, a proposta tinha os espaços públicos da própria instituição como alvo. “Desenhe e construa um espaço que seja uma solução para um problema que você identificou. Implante essa solução para o público”, pedia a tarefa.
Em entrevista à equipe de comunicação da UUTah, Nemo explicou como teve a ideia para a instalação.
“O estresse dos exames finais é real para muitos estudantes, e vimos, pela reação esmagadora a essa peça, que as pessoas no mundo do trabalho também querem e precisam de espaços para se emocionarem de forma segura. A necessidade é universal, porque é humana.”
FONTE: G1