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Estudo sugere que vitaminas podem ser benéficas à memória

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A ingestão de multivitamínicos diariamente e durante pelo menos um ano resultou em melhora de memória imediata (recente), aponta um estudo publicado. A conclusão, no entanto, ainda é precoce, além de que o uso irregular de polivitamínicos pode levar a complicações de saúde.

No artigo, publicado na revista The American Journal of Clinical Nutrition, o objetivo principal foi medir a memória imediata, conhecida por demandar a lembrança de algo recente.

“É uma memória que você usa de segundos a minutos”, afirma o neurologista Raphael Spera, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento.

Essa memória pode falhar com o passar dos anos, o que talvez afete especialmente pessoas mais velhas. Esse foi o público do estudo, que contou com 3.526 participantes. Cerca de metade deles teve acesso a um multivitamínico e, a outra parte, a um placebo.

Antes de começar a ingestão das pílulas, os participantes precisaram fazer atividades no computador para mensurar o funcionamento de diferentes tipos de memória. Uma dessas tarefas consistia em escrever palavras que tinham acabado de ser apresentadas a eles. O objetivo era concluir quantas palavras foram recordadas de forma imediata -o que corresponde ao uso da memória imediata.

Após o primeiro ano de consumo diário dos comprimidos, os participantes refizeram essa atividade. Então, a média dos resultados foi comparada ao que havia sido observado na primeira rodada do teste. Além disso, as respostas daqueles que acessaram multivitamínicos foram contrapostas às do grupo placebo.

Então, foi visto que o conglomerado de vitaminas pode ter colaborado para a manutenção da memória. Isso porque a média de palavras recordadas entre aqueles que tomaram os multivitamínicos foi de 7,81 após um ano de ingestão das pílulas -antes do início da pesquisa, a média era de 7,1. Por outro lado, o grupo placebo havia pontuado 7,21 antes do estudo. Após um ano, a média foi para 7,65.

Ou seja, o aumento na pontuação foi maior entre aqueles que ingeriram os comprimidos com vitaminas, o que se manteve nos testes feitos no terceiro ano do estudo, momento em que ele terminou.

Os cientistas observaram que a capacidade de relembrar as palavras testadas no estudo cai, em média, 0,074 a cada ano. Considerando este aspecto e a diferença entre o grupo placebo e aquele que consumiu as vitaminas, os autores concluíram que é como se os multivitamínicos tivessem causado uma melhora de cerca de três anos do que era esperado na queda anual.

No entanto, o próprio grupo placebo melhorou os índices nas respostas. Segundo JoAnn Mason, da Escola de Medicina da Universidade Harvard e uma das autoras do estudo, isso pode ser explicado pelo que se chama de efeito prático. “Os participantes ficam mais confortáveis fazendo os testes de memória e cognição várias vezes à medida que ganham mais experiência com os testes”, explicou.

LIMITAÇÕES

A pesquisa também investigou o efeito dos multivitamínicos para além da memória imediata. Uma dessas é a memorização tardia, “aquela consolidada, que vai durar horas ou dias”, explica Spera. Nesses casos, o participante precisou relembrar as palavras tempos depois de ser apresentado a ela, e não imediatamente.

Outra tarefa observou o tempo levado para reconhecer um objeto mediante pistas apresentadas aos participantes. Além disso, um teste observou o funcionamento das funções executivas, que envolvem capacidade de raciocínio, como organização, planejamento e solução de problemas.

Mas, diferentemente do que foi visto com a memória imediata, não houve efeito positivo dos multivitamínicos nessas outras áreas da cognição dos participantes. Para Spera, esse é um ponto de atenção. “Por que um suplemento vitamínico melhoraria só a memória imediata e não a tardia ou outros tipos de função cognitiva? Isso é estranho”, disse.

Além disso, a pesquisa precisaria abarcar uma variedade maior de pessoas para entender o quanto a conclusão pode ser generalizada. Segundo o artigo, os participantes eram basicamente pessoas com alta educação, brancas e com acesso à internet e a computadores -era por essas máquinas que os testes, criados especificamente para essa pesquisa, eram feitos.

Esses pontos, em conjunto com o fato de que mais estudos são necessários, fazem com que a conclusão da pesquisa não seja final. “Não é por esse estudo que eu começaria a dar polivitamínico para os meus pacientes”, afirma Ivan Okamoto, neurologista do Núcleo de Excelência em Memória (Nemo) do Hospital Israelita Albert Einstein, que não participou da nova pesquisa.

“Esse estudo precisa ser replicado em diferentes populações. É isso que é a formação de evidências”, acrescenta.

RISCOS

Algumas pessoas podem até imaginar que o consumo de multivitamínicos seja inofensivo, mas essa não é a realidade. Isso porque alguns tipos de vitaminas podem ocasionar problemas de saúde. Okamoto explica que esses são produtos hidrossolúveis -ou seja, o que o corpo não absorve é descartado.

Ainda assim, pode haver malefícios. “Existem casos de hipervitaminosas. Então o excesso também não é bom”, resume.

Além disso, pessoas que mantêm uma dieta balanceada normalmente já contam com o aporte necessário de nutrientes e, por isso, a suplementação seria desnecessária -e um gasto extra. Casos mais específicos, em que o uso desses produtos é indispensável, precisam de orientação e acompanhamento. “Não está recomendado reposição de vitamina sem orientação médica e nutricional”, conclui Spera.

Fonte: Folhapress

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