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Berço da educação piauiense: conheça as origens e tradições do município de Padre Marcos

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ORIGEM DO MUNICÍPIO

O município de Padre Marcos (PI), foi desmembrado de Jaicós através da lei 2.566, de 02 de janeiro de 1964, oficialmente instalado em 17 de janeiro do mesmo ano.

O marco e origem da Fazenda Boa Esperança se deu por volta do ano de 1786, com a chegada do capitão Marcos Francisco de Araújo Costa e sua família, ou seja, sua esposa Maria Rodrigues de Santana (filha de Valério Coelho Rodrigues) e os filhos: Inácio Francisco de Araújo Costa (vindo a ser presidente da província do Piauí no ano de 1828 a março de 1829 e comandante da Polícia Militar do Piauí); Francisco Manuel de Araújo Costa (Ten. Coronel); Antônia Rodrigues; Josefa Maria; Maria Rodrigues; Ana Rodrigues e Marcos de Araújo Costa (O Padre Marcos, vindo a ser vice-presidente da província do Piauí por quatro vezes, deputado provincial e vereador presidente da Câmara da Vila Jaicós).

O Capitão Marcos Francisco de Araújo Costa nasceu na Fazenda Canavieira, freguesia de Santo Antônio (hoje cidade de Canavieira-PI), na época pertencia ao município de Jerumenha – PI.

Marcos Francisco (Pai de Padre Marcos de Araújo Costa) construiu na Fazenda Boa Esperança a SEDE DA FAZENDA E ESCOLA BOA ESPERANÇA, casa essa adaptada pelo Padre Marcos para abrigar uma escola em regime de colégio internato a partir do ano de 1820, cuja experiência escolar se deu nas terras da Boa Esperança, na província do Piauí.

Contudo, antes da chegada da família do Padre Marcos na Fazenda Boa Esperança (hoje cidade de Padre Marcos), a dita Fazenda fora fundada por um português chamado Alexandre Rabello de Sepúlveda, um dos povoadores e grande criador de gado que chegou ao Piauí em 1680, ele fez parte da reunião de fundação da primeira freguesia no sertão do Piauí, Nossa Senhora da Vitória (Oeiras, 1697).

Conforme Felisbello Freire, em História Territorial do Brasil, Alexandre Rabello de Sepúlveda fora encarregado para abertura de uma estrada via Rio Pontal, para passagem de gado do sertão do Piauí para a Bahia.

Sabe-se que na relação dos possuidores de terras na capitania do Piauí em 1762, a Fazenda Boa Esperança e outras, com três léguas de comprimento e três de largura pertencia a Antônio Rabello de Sepúlveda, sobrinho do dito Alexandre Rabello. Posteriormente é que a Fazenda Boa Esperança e outras foram adquiridas por Valério Coelho Rodrigues.

O Capitão Marcos Francisco de Araújo Costa casou-se com Maria Rodrigues de Santana em 1772, e segundo Castelo Branco é provável que a Fazenda Boa Esperança tenha sido dada para Maria Rodrigues de Santana em forma de dote de casamento, prática comum à época.

A ESCOLA BOA ESPERANÇA: PRIMEIRA ESCOLA DO PIAUÍ

Costuma-se dizer que a maioria das cidades, sobretudo no Nordeste brasileiro, tenha surgido a partir das proximidades de um rio e do curral (fazendas de gado). No caso particular da cidade de Padre Marcos, além do rio (Boa Esperança, hoje Curimatá), do curral (fazenda de gado chamada Boa Esperança), o privilégio de uma escola, a escola Boa Esperança, do Padre Marcos de Araújo Costa.

A escola Boa Esperança é considerada como o berço da educação piauiense, que funcionou entre 1820 e 1850. O ano de 1850 também foi o ano do falecimento do Padre Marcos de Araújo Costa, cujo sepulcro ocorreu na igreja Nossa Senhora das Mercês em Jaicós-PI.

Não seria exagero dizer que Padre Marcos de Araújo Costa, sacerdote, político e educador, com sua ampla trajetória de vida nasceu para honrar o Piauí e iluminar os caminhos da sua província e inaugurar a primeira experiência educacional de verdade no Piauí.

Na primeira metade do século XIX, o Padre Marcos implantou uma escola nos rincões do sertão do Piauí, adaptando a sua própria casa para servir de colégio internato, sem custo algum para os seus alunos, numa época em que no Piauí somente existiam aulas avulsas ou isoladas, como bem registrou o autor Laurenilson Leal de Sousa, em História da Educação Jaicoense (2010): “Que algumas escolas públicas no Piauí existiam apenas nos decretos”.

Sabe-se que no Piauí as três primeiras escolas (cadeiras de primeiras letras) criadas foram em Oeiras, Parnaíba e Campo Maior, entre os anos de 1815 e 1818, segundo Renato Castelo Branco, em “A Civilização do Couro”.

Contudo, na mesma direção, aponta o autor Marcelo Neto no seu livro Entre Vaqueiros e Fidalgos: “Não havia em toda a província uma só aula de instrução pública”. Disse ainda Padre Joaquim Chaves, no livro o Piauí nas lutas da independência do Brasil: “Não havia na província do Piauí despesas com instrução pública, pois as escolas fundadas em Oeiras, Parnaíba e Campo Maior pouco antes de 1822 já não funcionavam naquele ano”.

Enquanto isso, a Escola Boa Esperança do Padre Marcos funcionava desde o ano de 1820. Com base nisso é que fundamentamos ter sido a escola do Padre Marcos de Araújo Costa, de iniciativa privada, a primeira escola a existir no Piauí.

O Dr. Fernando Lopes e Silva Sobrinho em sua obra “Padre Marcos de Araújo Costa – um missionário do bem  fez o seguinte registro: “ESSE COLÉGIO, ÚNICO ENTÃO EXISTENTE NO PIAUÍ (1820), que em matéria de instrução era àquele tempo de uma carência quase absoluta, até mesmo de escolas primárias (…)”.

Sobre Padre Marcos de Araújo Costa, o botânico inglês George Gardner, que em visita à Fazenda Boa Esperança e ao Padre Marcos no ano de 1839, por oito dias se fez demorar,  deixou-nos a seguinte impressão, em seu livro Viagem ao Interior do Brasil, obra familiar a qualquer estudioso do nosso passado: “Se todos os sacerdotes do país tivessem metade da cultura  (do Padre Marcos),  bem como da sua atividade e zelo pela difusão do ensino,  a condição do Brasil se tornaria bem diferente da que é, e da que receio continue a ser por longo tempo”.

Miguel Castelo Branco (1879), foi o primeiro entre os biógrafos do Padre Marcos de Araújo Costa a fazer referência ao início das atividades da escola do Padre Marcos em Boa Esperança, hoje município de Padre Marcos.

Portanto, o principal legado deixado pelo Padre Marcos e que não se pode deixar ser relegado a um segundo plano é exatamente o seu exemplo, tendo em vista seu didatismo, amor e dedicação ao ENSINO, à missão da mais bem-sucedida experiência educacional implementada por ele na sua Escola Boa Esperança, fruto do saber e reflexo da sua passagem pelo Seminário de Olinda do Bispo Azeredo Coutinho, e depois do seminário maior de Coimbra-Portugal, entre os anos de 1800 a 1805.

RESGATE CULTURAL DE ORIGENS E TRADIÇÕES

A história precisa ser reescrita a cada geração, porque embora o passado não mude, o presente se modifica. A história, já proclamavam os Romanos, é a mestra da vida, a testemunha dos tempos, e a mensageira da antiguidade.

Então, nos faz lembrar novamente Dr. Fernando Lopes e Silva Sobrinho (1955): “(…) Nem sempre sabemos premiar o merecimento daqueles que se dedicaram (ou dedicam) ao serviço da pátria e da humanidade”.

O cronista cearense Gustavo Barroso fez um registro que merece reflexão, sobre Padre Marcos de Araújo Costa. Segundo ele, Padre Marcos de Araújo Costa “espera no silêncio do seu túmulo a justiça de Deus, na voz da história” (Revista carioca o Cruzeiro, de 5 de junho de 1954). Teria razão o cronista para tal afirmação?

É uma questão tão mais profunda em que a própria população poderia conhecer, reconhecer, se identificar e validar importante, sobretudo os filhos da terra, porque no final das contas a história deixada pelo Padre Marcos de Araújo Costa, que infelizmente pouco tem sido explorada, é o maior exemplo de pioneirismo no tocante a educação piauiense.

O município de Padre Marcos vem dando os primeiros passos em direção ao resgate da sua história. Existe um povo detentor de vasta cultura que precisa ser preservada e incentivada.

Sobre isso, lembramos um comentário do ex-deputado federal Felipe Mendes de Oliveira, membro da Academia Piauiense de Letras, ocupante da cadeira 32: “A figura do Padre Marcos de Araújo Costa, com o seu trabalho pioneiro no ensino, é fundamental para o entendimento da educação e do desenvolvimento do Piauí. A sua história deve ser resgatada e difundida para que seu exemplo continue a inspirar gerações”.

Por isso o desafio e esforços da atual gestão do município de Padre Marcos (2021/ 2024), na luta pela construção do Centro Cultural do Padre Marcos de Araújo Costa. Por entender ser este o caminho em busca do resgate da história e da memória do Padre Marcos de Araújo Costa e do próprio município que leva o seu nome.

O mês de junho é o período de maior movimentação festiva na cidade, devido à programação de celebração religiosa do padroeiro da cidade Santo Antônio, pela realização dos festejos juninos, como também pelas inaugurações de obras da prefeitura.

Neste ano de 2021, em função da pandemia pelo Covid-19, não foi possível a realização dos festejos juninos, ficando às comemorações restritas a apresentação de uma LIVE cultural de artistas locais, com o tema: PADRE MARCOS CULTURAL: ORIGENS E TRADIÇÕES.

A live cultural ocorreu na noite do dia 13 de junho, com transmissão ao vivo pelas redes sociais. O evento contou com a participação de convidados, além dos profissionais do setor cultural cadastrados no Mapa Cultural do município, em atendimento à lei Aldir Blanc de auxílio emergencial em decorrência da pandemia.

Os segmentos contemplados foram: Artesanato, música, repente, artes plásticas, comidas típicas, grupos de dança, quadrilhas, designer gráfico, enfim, mostrando as riquezas culturais do nosso torrão.

A cultura, a final, é compreendida como os comportamentos e as tradições, o conhecimento de um determinado grupo social, suas crenças, costumes, arte, música local, língua, enfim, entre outros determinados aspectos.

A palavra cultura vem do termo em latim “Colere”, que significa cuidar, crescer, cultivar. A cultura brasileira é conhecida pela grande mistura de povos, por suas crenças e diversidade musical, as festas de São João, a culinária, enfim.

Em Padre Marcos não é diferente. Como bem disse Linnara Emily Benedito Moura, atual secretária municipal de Cultura: “Padre Marcos têm uma história muito bonita para ser contada e preservada, com agentes culturais que precisam de incentivo para continuar ascendendo, evoluindo e continuarem fazendo arte e cultura ” – finalizou.

Um momento marcante foi a roda de conversa do atual prefeito Valdinar Silva, do Advogado Raimundo Vieira e do atual Vice-prefeito Valdo Benedito, três amantes e valorizadores da cultura, que fizeram bela explanações sobre o surgimento do município em 1786 com a chegada do português Francisco Marcos de Araújo Costa, pai do Padre Marcos.

A abertura do evento cultural foi marcada com a leitura de um belo poema de autoria de uma filha da terra, a professora Márcia Martina Leal, poetisa, artesã completa, entusiasta da cultura e defensora das causas ambientais, que perdeu a luta contra o câncer em 10 de junho deste ano.

LIVE CULTURAL

O evento mostrou detalhes da cultura tradicional local que representam a origem e história da terra boa esperança.

Autores:  Valdo Benedito da Silva, Linnara Emily Benedito Moura e Romão da Cunha Nunes.

Humberto Júnior
Humberto Júniorhttps://www.1bertojunior.com
Amante da tecnologia e desafiador.
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